61. Tessa

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Nas primeiras horas tive certeza de que iria morrer.

Não sabia onde estava e nem poderia, já que meus olhos foram vendados no segundo que fui retirada do porta-malas. Uma voz arrepiante sussurrou em meu ouvido:

— Sem escândalo. Não vai querer acordar a vizinhança. – E eu tive vontade de chorar, já que a simpatia macabra daquela pessoa era muito mais assustadora do que uma ameaça.

Fui guiada para algum lugar. Não fazia ideia de onde estava, mas tive que subir degraus, virar corredores e esperar portas abrirem, até chegar aonde o stalker queria. Por fim, senti meu corpo sendo puxado para baixo e descobri que havia uma cadeira ali.

A pior sensação? Sentir cordas ásperas prendendo minhas mãos aos braços da cadeira. Naquele momento, os casos criminais mais assustadores – do tipo que me deixavam noites sem dormir – passaram por minha cabeça em detalhes. Eu já podia visualizar as pessoas no futuro lendo o caso "Tessália Flores", e aquele foi um pensamento tão horrível que quase me deu taquicardia.

Perder a noção do tempo é fácil quando se está vendada e presa em uma cadeira. E não sei ao certo como, mas meu corpo conseguiu se sentir cansado ao ponto de me fazer desmaiar de sono. Lembro de ter dito para mim mesma:

— Não dorme. Não dorme. Se dormir, não vai mais acordar... – Mas foi uma luta inútil. Quando acordei o susto foi inevitável, pois descobri que a venda tinha sido retirada.

Analisei meu cativeiro: era um cômodo vazio com paredes brancas, uma janela coberta por persianas, e uma TV. Minha cadeira estava posicionada em frente a um televisor antigo – do tipo que ainda possuía antenas – e que agora estava ligado, como se para me deixar entretida com algo.

— Que loucura é essa? – gemi, assustada.

Na tela, passava um desenho animado tão antigo que eu nem conhecia os personagens.

Toc toc – cantou uma voz.

Tomei um susto tão grande que pulei mesmo estando presa à cadeira. Na porta, tamborilando os dedos no vão, estava o palhaço.

— Oh, lhe assustei? Perdão. – Ele adentrou no cômodo segurando um banco. Colocou-o no chão e sentou ao meu lado, com as pernas cruzadas. – Não quis atrapalhar o show. Adoro esse desenho!

Meus músculos se tensionaram tanto que pareciam pedra. Queria me afastar dele, porém ainda estava amarrada. Tudo que consegui foi machucar os pulsos nas cordas.

— É da minha infância. – Ele parecia bastante interessado no programa. – Uma pena que nunca fizeram o episódio final. Sabe como é. O criador morreu antes.

Engoli em seco. Quando o palhaço pôs seu banco na minha frente e desligou a televisão, temi ter o deixado irritado.

— Não parece ter gostado do episódio – observou.

— O que vai fazer comigo?

— Eu nunca faria nada com você, Tessália. Quer dizer – ele olhou para cima, pensando –, só se seus amigos não pararem de me atrapalhar. Mas não precisa ter medo!

— Não preciso? Você me sequestrou! – acusei, girando os pulsos para diminuir a pressão das cordas.

Pela primeira vez em todos os nossos encontros, o stalker não usava uma máscara e sim uma maquiagem profissionalmente elaborada. Era a pintura de um palhaço, mas era tão bem feita quanto as de Hollywood, do tipo que nos impedem de conhecer o verdadeiro rosto do ator.

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