6. Sadie

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Eu sou a pior pessoa do mundo para cumprir uma missão.

Danielle tinha sido clara e específica quando disse o que eu deveria fazer: encontrar os destinatários, levá-los até suas respectivas cartas, e as ler. Simples assim. Não era uma tarefa minimamente complicada, mas ainda assim eu havia estragado tudo. Uma salva de palmas para Sadie Jole!

Sentada em uma das cadeiras de frente para o diretor Nickalson – cujo olhar não tranquilizava em nada meus medos – e com Tylor Collins pronta para fazer um drama prejudicial à minha reputação, comecei a me perguntar quando as coisas tinham saído (tanto) do meu controle.

— As senhoritas querem me explicar o que estava acontecendo naquela arquibancada? – o meu julgador perguntou por formalidade, já que estava óbvio que não havia a opção de não querer falar.

Tylor se endireitou na cadeira à minha esquerda.

— Nada de mais, diretor. Só algumas verdades um tanto...amargas, foram descobertas – respondeu sem humor, como quem quer fazer charme antes de empurrar todos em um vulcão.

— Bom, eu sou um apreciador da verdade. Adoraria escutar o que você descobriu, Tylor – Nickalson cantarolou, pondo os cotovelos sobre a mesa e diminuindo a distância entre nós.

Naquele momento, só consegui pensar que eu poderia estar em casa, tomando banho de mangueira no jardim, me refrescando debaixo daquele sol de verão ao lado dos meus irmãos. Mamãe traria limonada para nos manter hidratados, e papai tentaria segurar nosso cachorro, a fim de impedir dezenas de patas lamacentas pela casa.

Mas não. Estava na escola correndo o risco de ser incluída em uma investigação policial – o que poderia ser um obstáculo para a minha aprovação na faculdade, já que as universidades não costumam se interessar por candidatos com ficha criminal.

Tylor dobrou a perna uma sob a outra.

— Bem, eu não saberia nem por onde começar...

Por favor, Deus, mande uma intervenção divina! implorei em minha mente.

— Você parece pálida, Sadie – constatou o ex-fuzileiro, cínico. – Se não está acontecendo nada, por que o nervosismo?

Porque tem um diretor de escola metido a Sherlock Holmes querendo me intimidar!

Mas tudo que saiu da minha boca foi:

— Não estou nervosa.

Um som abafado soou pela sala. Pareciam com pancadas, espaçadas, como um coração que bombeia sangue. O diretor olhou em volta buscando a origem do som.

Carrancudo, se dirigiu à porta enquanto ordenava:

— Não se mexam!

Soltei todo o ar que prendia assim que o vi sumir pelo corredor.

— Céus. Deus é bom!

— Que barulho foi esse? – perguntou Tylor.

Antes que eu tivesse a chance de dizer qualquer coisa, uma terceira voz se fez presente:

— As madames gostariam de me acompanhar? – Era Paige Cloud!

Na porta, ela sinalizava para a seguirmos. Aquele era o nosso momento, nossa oportunidade para escapar! Então, sem pensar meio-segundo, agarrei Tylor pelo pulso e a arrastei para fora daquela sala.

— O que está fazendo aqui? – indaguei enquanto caminhávamos na direção contrária a que o diretor havia marchado. – Não que eu não esteja feliz de te ver aqui...Na verdade, é a primeira vez que fico feliz em te ver!

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora