Olhava para o homem à minha frente, me sentindo como em um julgamento cuja ré era eu, e ele, o juiz. De certa forma, era isso mesmo que estava acontecendo, pois o que eu dissesse nos próximos minutos definiria o meu destino e o de meus amigos.
O julgador se inclinou sobre a mesa, em uma postura de diretor de escola.
— Pronta para conversarmos?
Assenti com a cabeça.
— Nome? – perguntou como em uma entrevista de emprego.
— Sadie Ayo Jole.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Nome interessante – observou.
— Não tanto quanto o seu, Ray.
— Hau – corrigiu, não necessariamente chateado. – Mas entendo sua dificuldade. Nomes indígenas não são muito comuns por aqui.
O homem que nos salvou no metrô era do povo Maori – os indígenas nativos da Nova Zelândia. Quando nos contou isso, fiquei bem curiosa e com vontade de saber mais a respeito de sua história. Mas como éramos temporariamente suspeitos, tive que deixar a conversa para um momento mais apropriado.
A pele de Hau era da cor do mel tostado. Seu nariz era grande e seus olhos pequenos, com pupilas cinzentas como um céu tempestuoso. A cabeça era lisa como se nunca houvesse crescido um fio de cabelo sequer, e todo o seu corpo era poderosamente revestido com músculos.
No momento, estava usando uma camiseta polo azul e um relógio parecido com ouro, o que condizia menos com a imagem de guerreiro (e mais com a de um rico proprietário de campos de golfe, que cheirava cocaína nos fins de semana em sua banheira cheia de dinheiro).
— Tem certeza de que não é um irmão perdido do Dwayne Johnson? – perguntei mais para aliviar o clima.
— Dwayne...o lutador? – Sua risada indicava que minha pergunta tinha sido mais aleatória do que pensei.
— Sim. Você sabe... o "The Rock". Vocês têm até a mesma tatuagem no braço.
Hau tocou no desenho que cobria seu bíceps.
— Impossível. Nenhuma tatuagem Maori é exatamente igual à outra. Todas têm uma combinação única – informou, e eu achei aquela uma curiosidade muito interessante. – Mas deixemos essa conversa para mais tarde. Estou aqui para saber a verdade sobre você e seus amigos.
— Já teve essa mesma conversa com todos eles individualmente. Ainda não está convencido? – perguntei. – Aquele homem com máscara de palhaço tentou nos matar.
Hau abriu a gaveta de sua escrivaninha e de lá tirou uma arma. A arma que o stalker deixou no metrô.
Ele abriu o compartimento de capsulas e o mostrou para mim.
— Não tem balas – constatei, surpresa.
— Não – confirmou. – Significa que o objetivo daquela pessoa não era matar.
— Não naquele momento.
Ele suspirou e guardou a arma novamente.
— Mas respondendo à sua pergunta, Sadie: só acreditarei se até a última pessoa, no caso você, contar todos os fatos da mesma forma que os demais.
Cruzei os braços, me sentindo desafiada.
— Garanto que a menos que tenhamos vivido em realidades distintas, você vai ouvir a mesma história!
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...