66. Grey

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Para trás, garoto! – ordenou o policial com a mão no meu peito.

Olhei para além de seu ombro e pude ver um garoto – catorze? Talvez quinze anos? – sendo encaminhado para uma viatura, com as mãos algemadas. Os demais policiais afastavam a multidão curiosa que se formou na frente do Pacific Sea.

— Essa arma é do meu pai! – argumentava o menino. – Eu não destruí nada! Nem sequer fui ao fliperama!

Olhei para a expressão rígida do policial à minha frente e falei:

— Não foi ele! Precisam soltá-lo e ir atrás do verdadeiro culpado!

Seu olhar se estreitou para mim e o bigode entortou, como quem faz uma careta do tipo "Está a fim de ser algemado também?"

Sadie e eu estávamos próximos dos carrinhos de bate-bate quando avisaram que todos deveriam se dirigir à saída. Naturalmente, desobedecemos essa ordem. Alguns minutos depois, estouros abafados como de tiros fizeram um bando de gaivotas subirem ao céu, assustadas. Tive certeza de que não era coincidência. O stalker estava no parque.

— Garoto, deixe a polícia cuidar disso – pediu o oficial. Não que fosse mesmo um pedido.

— Precisa me escutar. Tem um palhaço maníaco a solta e ele vai matar todo mundo se...

— Grey! Eu estava te procurando!

Poucas coisas conseguem encantar mais os adultos do que a simples presença de Dominic. Fiquei tão surpreso com sua chegada que interrompi minha própria fala, e ele se aproveitou disso para lançar seu charme.

— Desculpe o incômodo, senhor. Meu amigo aqui tem uma verdadeira fobia de palhaços – sorriu.

Quase como mágica, o policial imediatamente relaxou os ombros e ajeitou o chapéu para ele.

— Senhor Hoer, não tem problema! Você e seu amigo podem ir.

Dominic agradeceu e saiu me puxando para dentro do parque. Ainda pudemos escutar o oficial dizer que a sua geladeira era da Hoer's Company, da mesma forma que alguém diz que conseguiu uma camiseta no show de seu artista preferido. Quando estávamos a uma distância segura, o garoto se pôs na minha frente.

— Enlouqueceu? Ia contar toda a verdade para ele? – questionou como se eu fosse um imbecil.

— O stalker precisa ser preso! – me justifiquei.

— Tudo que ia conseguir era parecer um perfeito maluco.

Os visitantes e funcionários do parque já tinham voltado a agir normalmente, como se nada tivesse acontecido. Pessoas fantasiadas de animais distribuíam sorvetes de casquinha para as crianças e saltitavam pelo parque, enquanto deviam estar lamentando suas escolhas de vida por debaixo da fantasia. Um funcionário vestido de coelho me entregou uma casquinha e saiu sapateando. Pelo menos uma coisa boa.

— Não é possível que ele ainda consiga se safar. O parque está cercado de policiais agora – falei mais para tentar me convencer.

Dominic cruzou os braços.

— É claro. Quem você acha que fez a denúncia anônima?

Levei alguns segundos a mais do que o necessário para compreender a situação.

— Primeiro, o sentido de ser uma denúncia anônima é que ninguém sabe quem a fez. Segundo, você ligou para a polícia e inventou que o Pacific Sea seria alvo de um massacre? – perguntei e ele confirmou com a cabeça. – Cara, eu acho que trote é crime.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora