11. A segunda carta

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Caro Dominic Alexander James Hoer,

Era uma manhã fria de Dezembro e eu me amaldiçoava (silenciosamente) por ter pegado detenção. Também era sábado, o que só servia para me deixar ainda mais indignada. Quase tanto quanto os meus pais, que cansaram de jogar na minha cara que pegar detenção nos últimos dias antes das férias de Natal, foi uma idiotice.

De qualquer forma, pedalei da minha casa até a escola, onde desci para prender a bike no bicicletário. Até aquele momento, não havia sinal de outra bicicleta ou carro no estacionamento do colégio, o que me fez ficar mais desanimada com a hipótese de ficar sozinha por 8 horas na biblioteca da escola.

Eis que o seu carro gigante e caro apareceu.

Você o estacionou com facilidade e desceu, acreditando que também era o único que havia pegado detenção, até seus olhos encontrarem com os meus. Lembro que eu levantei a mão para acenar (só para não ficar um clima estranho), mas acho que você nem viu e acabou me ignorando mesmo.

Antes de entrar na escola, recebi uma mensagem da minha mãe dizendo que após o meu castigo, devia me dirigir até um restaurante que ficava no centro. A minha madrinha havia conseguido um emprego novo e queria comemorar a novidade com o marido e minha família.

Aposto que está se perguntando o que raios você, Dominic Hoer, tem a ver com isso. Calma, tudo fará sentido ao final desta carta.

Entrei na biblioteca, onde foram organizadas dez carteiras escolares para apenas dois alunos. Você se sentou na primeira carteira, então eu resolvi me sentar na segunda. O Sr. Nickalson (o diretor da escola, caso não esteja lembrado. Eu acho que também faria questão de esquecer o nome de todo mundo depois que terminasse o colégio) apareceu e nos deu as regras da detenção:

1 – Não podíamos sair da biblioteca até as 5 horas do nosso castigo terminarem.

2 – Nada de ir ao banheiro sem a permissão dele.

3 – Celulares estavam proibidos! (o que eu achei um completo absurdo)

Quando retruquei e perguntei o que iriamos fazer em cinco horas, o diretor deu sua última regra:

4 – Nós tínhamos que fazer uma redação contendo quinze palavras novas que aprendemos lendo o dicionário.

E dito isso, aquele homem irritante largou um dicionário em nossas respectivas bancas. O diretor saiu nos deixando sozinhos, e eu só consegui sentir raiva de mim mesma por ter me colocado naquela situação.

De qualquer forma, comecei aquela odiosa tarefa, porque pensei que era melhor terminar e sair pontualmente após 5 horas, do que ter que ficar mais tempo só para concluir aquele exercício. Mas você não pareceu pensar o mesmo que eu, pois nem ao menos abriu o livro.

Eu estava na metade da minha redação quando meu colega de detenção se levantou e marchou até a porta. Quando você pôs a mão na maçaneta e a porta não se mexeu, percebemos que estávamos trancados.

"Eles podem fazer isso?" você me perguntou, notando a minha existência pela primeira vez no dia.

"Acho que aqui dentro podem fazer o que quiserem" respondi dando de ombros.

Nós não éramos amigos. Eu te conhecia por ser um dos caras mais populares e mais ricos de West Prince High, além de já ter ido a uma das suas famosas festas, com toda a equipe das animadoras de torcida. Mas não existia um vínculo entre nós (pelo menos não tão forte que justificasse as dezenas de perguntas que eu queria te fazer).

Você revirou os olhos e se dirigiu ao fundo da biblioteca, desaparecendo da minha visão. Pensei em ignorar sua existência e continuar a tal tarefa, porém toda a minha atenção estava focada em você e nas milhares de dúvidas que eu tinha. Fechei o dicionário, me levantei da carteira, e segui os seus passos.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora