42. Paige e Tessa

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Era meio-dia, hora de almoço, e ao invés de estar comendo nuggets de dinossauro, eu estava conversando com meu ex-namorado.

Apesar de ser verão, o céu estava nublado e o sol que se escondia atrás das nuvens fazia um brilho dourado se espalhar através delas. O vento estava mais forte e arrancava algumas flores do caramanchão – lugar que escolhi para conversar com Michael –, que caíam sobre minha cabeça como uma chuva lilás.

Tirei uma flor dos meus cabelos.

— E foi isso, Mike – concluí após um longo monologo. – Só achei que devia saber a verdade.

Ele mantinha seus olhos verdes voltados para a frente. Apesar disso, pude ver que estavam agitados ao acompanhar o ritmo de seus próprios pensamentos. Não podia culpá-lo por isso. Michael estava acostumado a só receber boas-notícias, assim como sorrisos e elogios. Escutar algo diferente disso, o lançava em uma zona de desconforto que nunca passara e que não sabia como reagir.

— Devia ter contado tudo quando terminamos – admiti, abraçando minhas pernas. – Mas eu te amava tanto, tanto, que não queria essa culpa sobre você. Não queria esse olhar no seu rosto. O que estou vendo agora – acrescentei com tanto sinceridade que senti meu peito doer.

O rapaz rico assentiu com a cabeça como se entendendo meus motivos (embora permanecesse em estado de choque).

— Devia ter me falado – disse.

— Eu sei.

— Nunca me passou pela cabeça que estivesse grávida. – Ele olhou em minha direção, perdido. – Não sei nem o que dizer.

Observei uma abelha passar voando em direção às flores do caramanchão.

— Não precisa dizer nada.

— Foi por isso que nosso namoro terminou? – perguntou, tão cuidadoso e inseguro quanto se andasse sobre a corda bamba.

Analisei seu rosto – o rosto que um dia amei mais do que minha própria vida – e foi estranho não proferir um "eu te amo", como fiz tantas outras vezes.

— Eu não via mais um futuro com você, embora ainda te amasse – esclareci. – Com certeza me doeu muito te chamar para conversar naquele dia. Me doeu correr de você e subir naquele skate, para não ouvir nada que pudesse me fazer mudar de ideia. Acredite, eu estava chorando. Apesar de tudo, te amava mais do que a mim mesma, Mike. Queria me ver ao seu lado para sempre! – Mordi o lábio inferior. – Mas em algum momento, a gente se perdeu. Eu te vi escapar das minhas mãos...

— Sinto muito – interveio. Seus óculos de sol estavam na cabeça, mas ele os abaixou quando percebeu que não conseguiria manter a postura fria e distante que construiu durante anos. – Sinto muito por tudo.

Fiquei surpresa com aquelas palavras. Nunca tinha visto Michael pedir desculpas. Nem mesmo quando esbarrava em alguém. Aquilo me deu forças para perguntar:

— Por que me deixou sozinha?

— Acho que eu te amava tanto – ele tentou explicar os próprios pensamentos –, que pensei que não tinha que fazer mais nada. Como se o meu sentimento já bastasse para você ficar para sempre.

Dei um sorriso, mas não de felicidade.

— Só o amor não sustenta uma relação – opinei.

— Sei disso. – O escutei respirar fundo. – Agora eu sei.

As lembranças de como nosso relacionamento terminou eram duras e por isso sempre busquei evitá-las. Mas ali, olhando para o garoto com quem vivi momentos tão felizes, percebi que não o detestava. Tão pouco nutria sentimentos ruins em relação a ele. Mike era parte de meu passado, não meu inimigo.

Decepção de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora