Miguel tinha perdido muito sangue e por isso estava desacordado há horas. Em parte, porque o acidente foi sério ao ponto de machucá-lo mais do que sua consciência suportaria, mas também porque estava sobe efeitos de sedativos pesados.
Todos queriam vê-lo. Queríamos receber notícias de seu estado de saúde, mas somente Tessa pôde nos dar algum tipo de esclarecimento quando saiu do quarto em que ele estava internado. Ela fechou a porta atrás de si e nos olhou de modo frágil.
— Estão fazendo uma transfusão de sangue. Não sabem dizer quando Miguel vai acordar – informou.
É, aquilo não era nada bom.
Mas as coisas podiam piorar: Paige chegou no hospital poucos minutos depois e seu rosto estava neutro. Neutro em um tom triste, se é que isso faz sentido. Usava uma calça cargo, regata com estampas de dinossauros e tênis. Seus cabelos estavam contidos em um rabo-de-cavalo, o que só deixava mais em evidência a melancolia de seus olhos.
Ela se aproximou de nós, sentou-se ao lado de Éric e perguntou com a voz quase robótica:
— Ele foi mesmo atropelado?
Confirmei com a cabeça e ela abaixou a sua, enterrando as mãos nos cabelos como se lutasse contra os próprios pensamentos. Apoiei um cotovelo na perna e prometi:
— Ele vai ficar bem, Paige.
— Não vai não – negou. – Minha mãe morreu em um acidente de carro. Também me disseram que ela ia ficar bem.
A sala de espera pareceu ficar mais cinzenta depois daquela declaração. Eu não podia culpar a skatista pelos seus traumas, mas ao mesmo tempo não podia deixar aquele pessimismo me afetar. Tinha que ter esperanças, tinha que acreditar que Miguel ia sair daquela situação, mas era difícil se manter esperançoso depois de ver alguém caído no chão em uma poça de sangue. Depois de ter uma visão da morte.
A sala de espera era uma tortura, principalmente com o relógio que fazia um tic-tac alto e ansioso. Sadie se ergueu da poltrona quando, perto dali, passou uma maca com uma criança desacordada e com uma mãe chorosa, o que foi demais para ela. Sadie caminhou para o fim do corredor com as mãos nos ombros, como se consolasse a si mesma. Me levantei e fui atrás dela.
— Você estava certo – ela disse quando estávamos a um passo de distância. – Algo ruim aconteceu. Eu devia ter te escutado.
— Não quero ter razão.
— Por que não? É a verdade.
Sadie se aproximou de uma das janelas. San Diego já estava escuro do lado de fora, com centenas de pontos brilhantes pincelando a escuridão.
— Isso tudo é minha culpa. Tudo começou a dar errado no dia que decidi ir atrás dessas cartas – falou mais para si do que para mim. – Miguel quase morreu, Greyson. Eu não sei se ele vai sobreviver ou se terá alguma sequela irreversível. E isso não é culpa de Danielle. É minha!
Sadie olhou para o chão.
— Eu destruo tudo que toco – suspirou, infeliz.
— Sabe que não é verdade – retruquei.
Ela fez menção de se afastar, mas eu alcancei seu pulso e a trouxe de volta para perto. Segurei em seu rosto e encarei seus olhos.
— Se eu estou aqui ou qualquer outra pessoa, foi porque nós escolhemos isso. Cada um tomou a decisão de saber o que sua carta dizia, Sadie. O que aconteceu com Miguel foi horrível, e eu juro que minha mente nunca vai conseguir esquecer. – Seus olhos se apertaram com força naquele momento. – Mas você não me destruiu. Na verdade, em poucos dias, virou meu mundo de cabeça pra baixo da forma mais maravilhosa que eu jamais pude imaginar.
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Decepção de verão
RomanceGreyson Hayes tinha tudo planejado: se formar no colégio, entrar para a faculdade, e pagar um aluguel razoavelmente barato no apartamento que dividiria com sua namorada. Porém, um câncer entrou no meio de seus planos. Um ano após a morte de Danielle...