Acontecimentos Parte 1

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Capítulo 43 –Acontecimentos Parte 1

A palavra rasgava seu corpo enquanto compreendia seu significado. Harry sentia seu corpo tremer, mas não conseguia pensar em um modo de controlá-lo. Deixou-se então ser preenchido por toda a verdade de Draco, permitiu que entrasse em si o fazendo compreendê-lo de uma forma profunda e íntima. Os olhos cinzentos piscaram antes de se fecharem e se afastarem do menino que sobreviveu. Contou-lhe tudo, ou melhor, o forçou a ver tudo o que sempre quis saber, a única coisa que escondeu fora o dever de matar Dumbledore, se Harry soubesse sobre isso tentaria impedi-lo mesmo já sendo muito tarde para isso.

- Agora você sabe. - Sussurrou Draco dando-lhe as costas e se aproximando de uma janela recém conjurada na sala que dava vista para o lago negro. - Pode ir embora agora.

Deveria realmente fazer isso, ir embora, dar as costas para o comensal loiro. Se quisesse poderia matá-lo facilmente, era só apontar a varinha para suas costas e recitar o feitiço, duvidava que Draco se defendesse. No entanto, não conseguiria, a voz grasnada de Bellatrix lhe lembrava isso "Você tem que querer", Harry não queria, jamais iria querer isso, principalmente por que era culpa sua.

Toda sua.

A varinha caiu no chão com estrondo, ainda assim ninguém prestou atenção. Draco continuou parado olhando atentamente para a água do lago brilhando intensamente conforme o sol se punha e Harry não teria ouvido o barulho nem mesmo de uma manada ao seu lado, estava preso em sua culpa. Culpa que sentia por ter pedido a Draco para executar um papel claramente destrutivo para si mesmo. Lembrava-se nitidamente do momento em que fizera a proposta para o loiro, usara a fragilidade e o medo a seu favor, alimentando o egoísmo que sentia por querer Severus vivo ao seu lado. Em sua cegueira livrara um homem pelo preço de outro. Draco aceitara, mas é claro que aceitaria, sua família corria perigo devido a falha do senhor Malfoy com seu Lord, o próprio Draco estava em grande perigo sendo visado como alvo para a vingança de Voldemort com seus servos incompetentes. Não havia o que fazer além de aceitar toda e qualquer ajuda que pudesse ter. O maior problema fora jamais prever que aquilo aconteceria, em sua mente imaginou que as crueldades do Lord paravam em Severus, que tudo aquilo fora unicamente para seu sofrimento, mas Voldemort era muito mais sádico do que se podia imaginar.

Engolindo em seco aproximou a mão das costas de Draco imaginando o quanto de dor ele teve que guardar sem ter com quem dividir, quantas vezes será que ele se guardou, que se escondeu atrás da loucura e do homicídio para não ver seu próprio reflexo? Quantas vezes? Harry tocou as costas dele e o sentiu se encolher, mas sem se mover, como se o toque fosse algo doloroso. Para Harry era como se encostasse em uma camada grossa de lama que o fizesse deslizar e se sujar.

Então ele se sujaria.

Draco sentiu os braços de Harry enlaçarem sua cintura e suas mãos espalmarem-se pelo seu peito agarrando-se em seu colete como se sua vida dependesse daquilo. Fechou os olhos quando um beijo foi postado em sua nuca e a cabeça do moreno descansou em suas omoplatas. Queria afastá-lo de si, deixá-lo longe de seu ser cruel, do sangue contaminado que sujava suas veias, mas não havia força alguma para afastá-lo, por isso postou sua mão sobre a dele e entrelaçou seus dedos. O silencio da sala era tocável, só sabia que estavam respirando porque sentia o peito de Harry subir e descer ao mesmo ritmo do seu. Draco pigarreou após alguns segundos e abriu a boca para dizer alguma coisa, pedir que Harry se afastasse que fosse embora e o deixasse para sofrer e se tornar um nada, mas foi surpreendido pela voz baixa do moreno.

- Me perdoa.

A palavra perdão era algo estranho para os ouvidos de Draco, se já ouviu alguma vez quando criança esquecera-se há muito tempo. Ele mesmo não sabia pronunciar tal palavra. Porém mesmo não conhecendo sentiu o quão poderoso era seu significado, o peso que ela infringia em seu ser. Harry lhe pedia perdão, mesmo que não tenha sido ele que trucidara diversas famílias trouxas, que fora ao limite da razão em um poço fundo de sangue, que despedaçou sua própria alma, nem fora ele que fizera... que fizera muitas coisas ruins.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora