O início de algo

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Harry piscou os olhos algumas vezes antes de realmente abri-los. Por um momento não compreendeu onde estava, sua visão estava embaçada pela falta dos óculos e uma claridade incomodava-o. Franzindo o cenho imaginou se estaria em seu dormitório em Hogwarts com sua cama de dossel revestida com cortinas vermelhas em companhia de seus amigos grifinórios, mas assim que as lentes foram postas em seu rosto deixando sua visão nítida, o sentimento de euforia fora substituído pela decepção. O quarto era cru e sombrio iluminado apenas pela luz solar que entrava pela janela aberta. Ainda assim era frio.

Fechou os olhos desejando poder permanecer na cama sem se mexer, sem fazer nada, nem mesmo respirar. Mas sabia que não podia, tinha obrigações a fazer e se não as cumprisse as consequências poderiam ser devastadoras. Pensando assim, sentou-se sentindo o ardor nos braços e costas, parecia que tinha ficado o dia inteiro pegando peso, seus braços estavam doloridos e pesados, era difícil até mesmo retirar a calça do pijama. Já suas costas aparentavam terem sido pisoteadas por uma manada de elefantes, não se atrevia nem mesmo a respirar fundo, a dor era gritante. Ainda assim achou que a dor seria muito pior do que a que sentia.

Que seja, não havia tempo para pensar em nada disso. Ignorando as dores e dificuldades, levantou-se e foi ao banheiro, fez sua higiene e se trocou levando um grande susto ao ver que já eram quase dez horas da manhã. Rapidamente voltou e arrumou seu quarto deixando-o sem vestígios de que alguém acabara de levantar. Depois desceu correndo as escadas e foi diretamente para a cozinha. Snape não estava ali e Harry não sabia se isso era um bom sinal ou não. Acabaria tendo que descobrir depois. Concentrou-se em mexer nas tigelas e frigideiras, o café da manhã tinha que ficar pronto o quanto antes. Em quinze minutos tudo estava arrumado na mesa esperando que Snape aparecesse, mas o professor não apareceu, nem mesmo depois dos vinte minutos que Harry gastara para lavar a louça.

Snape não apareceu.

A falta de Snape naquela casa deveria acalmar Harry, deixá-lo tranquilo por não ver sua pessoa e não sentir a apreensão quanto aos seus atos, mas ao contrário, só o fez ficar mais e mais nervoso. Sem Snape ali não era possível prever seu humor e nem se preparar para o que quer que acontecesse. Tentando não pensar em nada mais do que seus deveres, passou pela casa arrumando e limpando até que tudo estivesse em seu devido local. O quintal demorou um pouco mais, ainda assim estava limpo e arrumado. Quando o relógio indicava uma hora da tarde, Harry sentou-se em sua cama e esperou, o tempo passou e o café da manhã ainda estava na mesa sem ser tocado, sua barriga roncava cada vez que se lembrava dos ovos, bacon e suco que fizera, mas sabia que não deveria comer antes do dono da casa. Aprendera isso a duras penas.

- Potter! – Chamou a voz de Snape alguns minutos depois.

Harry fechou os olhos odiando aquela voz, mas obedecendo ao chamado desceu as escadas e parou no último degrau. O homem estava parado no batente da cozinha com os braços cruzados e olhando-o com atenção.

- Me chamou... pai. – Perguntou Harry sentindo arder a garganta ao obedecer a ordem que aprendera na noite anterior.

- Sim, precisamos conversar. – Disse Snape descruzando os braços e indo para a cozinha onde indicou uma cadeira para Harry se sentar.

O menino caminhou lentamente sempre observando a reação do homem, sabia muito bem que jamais deveria dar as costas a quem fosse mais forte, as consequências eram cruéis e dolorosas. Ainda se lembrava muito bem do soco que levou do seu primo Duda quando tinha apenas dez anos e a risada do Tio Valter parabenizando o filho gorducho sem se importar com aquele que estava ajoelhado no corredor chorando com dores. Sentou-se com calma e tentou não encostar as costas no encosto, ainda ardiam. A comida que fizera de manhã ainda estava na mesa magicamente aquecida e protegida. A barriga de Harry roncou alto, mas o menino não deu atenção, apenas permaneceu quieto esperando que o começo do que deveria ser algum sermão irritante, se tivesse sorte seria somente sermão. Porém Snape não deixou aquilo passar em branco.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora