O segredo da vida

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Capítulo 34 - O segredo da vida.

Harry sentia o peito inflar de pura raiva. Estava postado firmemente ao pé da cama em que Severus estava deitado, seus braços permaneciam cruzados em frente ao peito e seus lábios cerravam-se com força para impedir que os insultos na ponta de sua língua escapassem. Sentia dor por ter sido jogado na parede horas antes, mas não admitiria isso jamais, mesmo que tivesse que se esforçar muito para esconder a imensa dor de cabeça que sentia. Além de saber que Severus ficaria com remorso e voltaria a lhe pedir desculpas, acabaria mudando de assunto e dando ênfase para que o homem saísse pela tangente fugindo da escolha que jogara em seu colo.

Ou Voldemort ou seu filho.

Não era difícil escolher, era somente dizer que escolhia Harry, que preferia mil vezes ficar em segurança em seus aposentos tendo o menino por companhia, mesmo que irritante, do que caminhar direto para os braços de Voldemort correndo o grande perigo de ser sua última caminhada. Era só dizer isso e todo o sofrimento que via no rosto do mais velho iria embora, todo o peso que aqueles ombros carregavam partiriam. Por que ele não dizia?

Viu o homem revirar os olhos para si como se sua atitude fosse nada mais do que rebeldia de adolescente. Talvez fosse, mas era tão difícil entender que era cruel e doloroso ver aquele que ocupou um lugar tão grande em sua vida deitado em uma maca com o peito cortado e o sangue sujando lhe a pele? E se fosse o contrário? E se fosse Harry deitado ali esforçando-se para respirar, tentando ao máximo não tremer perante os olhos do outro. Será que se fosse assim ele iria também apenas aceitar que era um destino a qual não poderia fugir? Não. A resposta era mais clara que Veritasserum. Snape jamais permitiria, ele o prenderia em uma torre com correntes encantadas e com um trasgo na porta para que não fugisse.

- Escolha. - Disse Harry engolindo a dor na garganta ao ver o homem franzir o rosto ao se mexer para pegar um simples copo d'água na mesa ao lado.

- Não há o que escolher, Harry. Deixe de ser infantil.

- Infantil? Quem é que está sendo o infantil aqui? Eu ou você que está com o corpo todo retalhado por aquele insano e ainda pensa em voltar para ele. Quem é o infantil?

Não houve mais modos de se segurar, ele precisava gritar, precisava extrair toda a ira que sentia pela idiotice que aquele insano queria fazer. Snape apenas fechou a cara em sua máscara de sempre como quem não se importa com o que está dizendo ou sentindo. Iria se fechar em seu mundo e deixar Harry do lado de fora como se não fosse nada, como se não pudesse optar em nada que fosse fazer. Mas Harry iria optar, afinal, ele era seu pai agora e não iria ficar quieto. A decisão que ele tomasse refletiria em si. Olhou mais uma vez para os olhos negros de Snape e fez a pergunta novamente.

- Ou Voldemort ou eu.

- Já disse que não vou escolher. - Respondeu Snape. - Não há escolha a ser feita. Eu tenho um papel a cumprir e irei cumprir até o final, até...

- Até você ser morto. - Completou Harry jogando os braços para cima. - Então vai. Levanta daí e corre para os braços do seu mestre. Vai receber os cruciatus e sei lá mais qual feitiço ele usa contra você pra te deixar desse jeito. Vai servir como bichinho de estimação dele.

- Olha o jeito como fala comigo, moleque. - Ralhou Snape erguendo-se com dificuldade.

- Agora você quer se preocupar com o jeito que eu falo? - Perguntou Harry vendo o homem encolher o braço contra o peito onde os cortes começavam a sangrar mais intensamente. - Se você realmente se preocupasse não iria ser idiota.

- Não vou aturar suas petulâncias de menino mimado. - Disse Snape pegando Harry pelo colarinho.

Ainda que o ato fosse típico de si quando estava bravo com Harry, a força em suas mãos não era. As garras que outrora praticamente rasgariam sua camiseta, naquele momento mal conseguiam segurá-la. Snape cambaleou, mas manteve-se em pé olhando para o menino com olhos fundos e desfocados. O homem engoliu em seco piscando fortemente. O suor brotou de sua testa e sua pele empalideceu.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora