Loucuras

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Capítulo 38 - Loucuras

- Pronto? – Perguntou o homem a sua frente olhando-o intensamente.

- Sim. Pode mandar e não facilite.

O ambiente estava propicio para o pedido dele, apesar de não ter janelas uma brisa gelada batia em seu rosto deixando-o vermelho e arrepiando sua nuca. As poucas velas jogavam sombras nos cantos obscuros deixando a sensação fantasmagórica de que alguma coisa espreitava-os. Ao contrário do que estavam acostumados não havia nenhuma decoração típica de uma sala inocente onde amigos conversam. Ali existia apenas o aspecto rústico das catacumbas do medo e da tragédia. O chão era irregular e rude, as paredes manchadas traziam a mente as imagens antigas dos prisioneiros que em momentos de agonia batiam suas palmas contra elas até a carne ser comida por suas partículas. Até mesmo o ar era cruel, ardia ao entrar e correr até os pulmões prestes a explodir. Havia correntes fincadas nos confins de seus concretos, correntes que choravam as lamurias de suas vítimas já perdidas no negror da morte.

Respirando fundo e desprovido de qualquer forma de defesa ele apenas se muniu da força de suas entranhas. Fechou a mão com força sentindo a unha arranhar a pele de sua palma, seus olhos miraram o rosto de seu algoz e sentiram a frieza que dele vinha. Não havia dó, assim como pedira, ele faria da maneira mais cruel e intensa assim como fora feito em si. Seu corpo gelou quando a varinha que se ergueu, focalizou a ponta do artefato, engoliu em seco e ignorou o suor que começou a brotar de sua testa. Se estivesse prestando atenção no homem a sua frente, veria o sorriso que se ergueu nos lábios finos, um sorriso que ele aguardara muito tempo para fazer surgir em seu rosto. Se tivesse prestado atenção perceberia a ansiedade que fazia as narinas inflarem e os olhos arregalarem escurecendo perante o ato que o deixava vivo. Mas Draco não estava prestando a atenção em Snape e não viu quando a loucura de outrora invadiu seu professor e o preencheu com o fogo de seus anos de comensal, anos e atos que fora obrigado a deixar para trás, mas que fazia parte de si, que estava entranhado em sua carne misturando-se em sua alma. Draco só conseguia olhar para a ponta da varinha de Snape esperando o momento em que o feitiço sairia dela e o atingiria com todo o ódio que o mestre de poções poderia transpor em algo tão simplório como um feitiço.

- Legilimens!

O feitiço quase o jogou para trás, havia tanta fúria na luz emanada pela varinha negra que Draco se desconcentrou por um momento permitindo que o homem o invadisse com ferocidade agarrando as paredes de suas lembranças com garras de ferro e o rasgando retirando o sangue de suas memórias. A dor atacou o corpo do loiro fazendo-o cair de joelhos no chão enquanto Snape se via em um quarto suntuoso com uma janela que deixava a luz da lua invadir seu ambiente iluminando a belíssima cama tão grande que ocupava metade de uma parede. O quarto era realmente muito belo, mas em nada parecia com o menino que escutava a conversa pela fresta da porta.

"- O que ele queria, querido?

- O mesmo de sempre, quer Draco.

O menino apertou a mão na maçaneta e baixou a cabeça, parecia que já estava acostumado com aquela conversa e só ficava ali esperando que pela primeira vez o rumo dela fosse outro.

- E o que você disse?

- O mesmo de sempre, que no momento ele não está pronto, mas que logo logo estará dentro do ciclo dos comensais servindo ao nosso mestre. Só espero que ele não me decepcione.

- Não vai meu amor, não vai, ele será tão bom quanto o pai.

- Espero que sim Narcisa, ou a culpa será sua que não o criou direito.

- Não se preocupe Lucius, nosso filho o deixará com orgulho.

- Assim espero, agora vamos para o quarto, quero tê-la agora."

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora