Um pouco de meu passado

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Capítulo 13 – Um pouco de meu passado

O barulho da porta batendo reverberou por alguns segundos na casa silenciosa, Harry escondeu o rosto nos joelhos abraçando suas pernas com mais força e esperou. A espera era cruel, pois trazia consigo o medo de que acabasse ficando ali naquela sala sozinho, medo de que ele não descesse, que não quisesse...

"Quisesse o quê?" Se perguntou Harry. Aprofundar o relacionamento estranho que tinham? Desabafar sobre seu passado com o menino que sempre fora um martírio para si? Que patético!

- Como você é idiota, Harry Potter. – Disse Harry começando a se balançar enquanto tentava conter a dor estranha que se iniciava em seu peito.

A verdade era que por mais louco e esquisito que fosse aquilo, queria se dar bem com Snape. Com certeza Rony e Hermione o chamariam de maluco, mas não podia negar a si mesmo que desde aquela noite em que o professor o levara da casa de seus tios sentira com ele algo que jamais sentira com outras pessoas, nem mesmo com Sirius ou Lupin. Era um sentimento de segurança, como se o homem fosse um porto seguro. E talvez fosse mesmo, afinal, ele o levou da casa de seus tios quando estava quase morto, o cuidou, o sarou e o abraçou quando a dor era demais. Tudo isso sem ter a obrigação de cuidar do filho de seu amigo. Ele cuidou e protegeu o filho de seu inimigo.

Como não sentir algo por alguém assim? É quase impossível. E depois tiveram os dias em que sentiu raiva dele, não por ter que ficar naquela casa fria, preso até que as aulas começassem, mas porque ele não aparecia, não lhe fazia companhia, o abandonara como todos os outros. Foi então que inexplicavelmente ele surgiu e mandou chamá-lo de pai. Harry lembrou-se nitidamente da raiva que sentiu, não por isso ferir a memória de James, mas por ter sentido, quando estava de cama se recuperando dos cuidados de seu tio, que finalmente achara alguém em quem poderia se apoiar, que toda a dor fora embora e então passar dias sem vê-lo ou falar com ele. Os machucados em suas costas e braços não eram nada se comparados com o medo de seu possível engano.

Mas tudo, enfim, mudou.

Snape mais uma vez o surpreendeu cuidando dele, mostrou aos poucos que estaria ali. Ainda tinha medo, claro, ele poderia ir embora a qualquer momento. Não queria chamá-lo de pai pelo medo de se apegar demais e formar em sua mente a figura de um homem que estaria ali para sempre com ele somente para depois ir embora. A perda de seu pai, que nem ao menos fizera parte de seu crescimento, já era cruel. A perda de alguém que cavou em sua alma um canto para se instalar e o fez ter fé em um laço fraternal intenso era devastador.

O tempo continuou a passar, os minutos voaram enquanto Harry continuava se balançando no sofá agarrado a suas pernas e com o rosto escondido. Ele não viria. Uma dor atravessou seu peito quando entendeu que aquele sentimento que crescera em si não era recíproco. Snape não procurava um filho como ele procurava um pai.

Que idiota. Pensara Harry novamente antes de desistir e levantar o rosto. Quando seus olhos se abriram o menino sentiu a sensibilidade da luz clara que iluminava a pequena sala, piscou um pouco e demorou para perceber a figura a sua frente. Quando sua visão focalizou completamente percebeu que Snape estava sentado na poltrona a sua frente, suas pernas estavam cruzadas e seus dedos entrelaçados em cima de seu colo, os olhos negros o observavam com atenção, mas não transpareciam nenhum sentimento negativo, apenas uma pequena paciência e curiosidade.

- Há quanto tempo você está ai?

- Tempo o suficiente para me perguntar se tinha me chamado para assisti-lo se derreter em auto piedade.

- Não estava me derretendo em alta piedade. – Respondeu Harry com um tom agressivo em sua voz.

- Então o que estava fazendo? – Perguntou Snape levantando a sobrancelha.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora