A penseira

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Capítulo 20 – A penseira

Harry apertava a cadeira com força, seus dedos logo perderiam a sensibilidade, podia imaginá-los brancos de tanta força, mas só imaginá-los, pois seus olhos estavam presos nos negros de Snape que ardiam de desapontamento fazendo o coração de Harry doer. Jamais sentira algo assim, nem mesmo com Sirius ou Lupin ou Dumbledore. Com eles era diferente, não era tão intenso, mas com Snape era como se o mundo despejasse o caos aos seus pés, desmoronasse pedra por pedra e destruísse qualquer possibilidade de carinho.

- Pai... – Começou Harry baixinho.

- Cale-se. – Vociferou Snape entre os dentes fazendo Harry recuar na cadeira. – Eu disse para você ficar longe do Malfoy e, no entanto, você se acha acima de qualquer ordem.

- Não é isso, eu... – Tentou explicar Harry.

- Disse para ficar calado. – Rosnou Snape entre os dentes. - Será que é incapaz de obedecer até mesmo as ordens mais simples?

Agora havia algo mais dançando nos olhos negros a sua frente, havia algo como raiva, muito menor do que já vira antes, mas ainda assim era raiva e isso o deixava inquieto. Harry se calou, mas dentro de seu peito algo ardia e o arranhava informando que estava prestes a despertar.

- Foi um acidente. – Disse Harry entre dentes.

- Não tente me fazer de idiota, Potter. Apesar dos meus avisos você deliberadamente socou Malfoy. Você me desobedeceu.

Harry respirou fundo, a raiva crescia dentro de si, mas apesar disso permaneceu quieto apenas ouvindo as injurias lançadas aos seus ouvidos

- Mas não adianta falar nada para você não é mesmo? – Disse Snape aproximando-se devagar do menino e olhando tão profundamente nos olhos de Harry que chegava a arder. – Por mais que eu odeie, você realmente é igual a James. Arrogante que não se importa com nada além de a si próprio.

Agora a raiva não fervia, ela borbulhava enlouquecida enquanto encarava Snape, nem ao menos reparara que havia se levantado e que suas mãos estavam fechadas com força que chegaria a cortar sua carne se deixasse.

- Está em detenção por uma semana.

Mas Harry não queria saber da detenção, não queria saber se teria que se sentar em uma carteira velha e organizar fichas ou então limpar o armário de estoque. Faria isso e muito mais, pois a glória de ter parado Malfoy era o que brilhava em seus olhos antes de abrir a boca.

- Eu não podia permitir que ele continuasse a falar da minha mãe.

Snape ficou completamente aturdido ao ver o menino zangado daquela forma, havia uma aura tão intensa ao seu redor que era possível sentir de longe. Harry estava completamente raivoso e Snape sentia dentro de si que poderia sentir a mesma coisa. Odiava quando tocavam no nome de Lilian.

- Não me interessa o que aconteceu, você está errado.

- Não estou não.

- Está sim. – Rebateu Snape. – Nunca lhe ensinaram que regras devem ser obedecidas e há o certo e o errado que vão além do que você acha. Mas eu vou lhe ensinar nem que seja a força.

- Então faça. – Gritou Harry. – Eu não estou nem aí, socarei Malfoy quantas vezes for necessário para que não toque no nome da minha mãe. Você não sabe como foi ouvir ele falando que ela era suja por ser nascida trouxa. Você não sabe por que você não ama!

Naquele momento, apesar da raiva cega, Harry percebera, talvez um pouco tarde, que atingira o limite de Snape, afetara algo no professor, pois os olhos negros ficaram desfocados e perdidos como se não conseguissem ver a sala nem o menino, somente algo que estava em suas memórias e alma. Harry respirou fundo e a cada minuto que passava sentia a raiva recuar dentro de si e se esconder novamente. Quando conseguiu abrir as mãos e piscar com calma olhando para o professor viu que ele continuava parado olhando para algo que estava além do entendimento de Harry.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora