O comensal

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Capítulo 11 – O comensal

Os olhos do comensal permaneciam fechados mesmo depois de sua chegada silenciosa. Por um momento queria apenas respirar fundo e se preparar para o que iria fazer. Roubar a alma de alguém não era uma tarefa fácil ou reconfortante. Exigia muita força e concentração para não se deixar cair na fraqueza humana, porém esse comensal tinha diante dos olhos a resposta para qualquer temor que lhe viesse à mente. Harry Potter dormindo em sua cama após um pesadelo vivido com seu algoz, o dono de seu medo, aquele que o fazia tremer em meio ao sono e que o transformara em uma sombra.

Ah, sim. Esse era um motivo mais do que satisfatório. A vingança pelo outro. O comensal abriu seus olhos negros desprovidos de pena e sorriu sob a máscara prateada deixando-a escura com seus pensamentos impuros. Devagar e sem pressa se adiantou pela rua escura até a avenida iluminada pelos postes altos e carros que passavam solitários. Era tarde, mais de meia noite, era a hora certa.

Como havia imaginado, a família abandonou a casa na Rua dos Alfineiros e foram para um hotel no centro de Londres. Sem necessidade, um homem com Snape sabia muito bem como achar uma pessoa quando queria, ainda mais um trouxa como Dursley que não teria como fazer feitiços para se disfarçar. A frente do hotel era simples com apenas uma porta dupla e uma placa iluminada em cima, aquela era a hora certa e aquele era o palco mais do que ideal.

Outro sorriso riscou a noite antes do comensal desaparecer.

A porta do quarto era simples, branca com um número acima do olho mágico. Ficou indeciso por um momento, o que faria? Bateria na porta e esperaria que viessem abri-la ou apareceria dentro do quarto de surpresa? Escolheu bater na porta, dramatização sempre fora seu forte, ver o temor nos olhos da vítima era deliciosamente reconfortante. Sim, era a melhor escolha.

Três toques foram suficientes para se ouvir lá de dentro a movimentação e os xingamentos pela tardia hora.

- Quem é? – Perguntou a voz grossa do homem que fazia as entranhas do comensal se revirarem.

- Serviço de quarto, senhor. – Respondeu o homem sombrio tampando o olho mágico com a mão.

- Não pedimos nada. – Havia um pequeno tom exasperado naquela voz. O comensal lambeu os lábios, estava ficando cada vez melhor.

- É cortesia.

Houve um pequeno instante de silêncio em que provavelmente a vítima estava tentando ver quem era, mas estava impossibilitado. Depois de alguns segundos ouviu nitidamente a voz grossa tremer de medo.

- É ele, fique longe Petúnia, fique com Duda. Sai daqui, vá embora! – Gritou essa última parte.

- Que pena. – Sussurrou o comensal antes de apontar a varinha para a maçaneta e abrir a porta com facilidade.

Ao entrar viu o homem gordo na sua frente com raiva e medo, atrás de seu corpanzil dava para reconhecer o menino com sua mãe. Os olhos da mulher estavam arregalados olhando de si para o marido. Sim, era isso que sempre quis ver nos olhos castanhos dela, aquele medo racional. O desespero. Isso o alimentava.

- Dursley? – Chamou voltando a atenção para o homem. – Nunca lhe disseram que é falta de educação não abrir a porta para uma visita?

- O que quer? Saia daqui ou eu chamo a segurança.

- Pode chamar se quiser ter o peso de mortes desnecessárias em sua mente. Acho que não. Melhor sermos somente eu e vocês.

- Mas quem é você?

- Mas já se esqueceu de mim? – Perguntou a voz fria abrindo os braços em um sinal de surpresa e se aproximando um passo enquanto a porta fazia o claro barulho de tranca. – Eu disse que era para aguardar minha visita.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora