Filho

5K 540 329
                                    

Capítulo 14 – Filho

As xícaras jaziam esquecidas na mesinha em frente enquanto o homem de cabelos negros ouvia atentamente o menino lhe contar sobre sua infância na casa dos tios. Na verdade não havia muito a ser dito, não tinham muitas histórias para serem contadas, apenas a mesma coisa de sempre, o armário sob a escada, Duda o fazendo de saco de pancadas e a solidão na escola primária. Harry já havia contado na noite anterior sobre seus tios e os carinhosos cuidados que recebia, então agradeceu Snape por não lhe fazer perguntas sobre isso, era difícil recordar os momentos em que era espancado pelo homem que deveria protegê-lo.

Snape sempre fora um bom ouvinte, lembrava-se de ficar sentado ao lado de Lilian ouvindo-a falar sobre as aulas que não dividia com ele. Muitas vezes a menina nem o deixava respirar e emendava algum outro fato que achava ser interessante. Snape sempre ouvia mesmo que muitas vezes não tivesse o que dizer assim como quando Harry lhe contara sobre a cobra no zoológico, os Weasleys invadindo a casa de seus tios e deixando-os loucos. Por dentro o professor sentia uma tremenda vontade de rir, mas era uma vontade tão estranha que preferiu ignorá-la.

- Já é hora do almoço. Você precisa se alimentar. – Disse Snape após ouvir a barriga do menino roncando.

- Não percebi o tempo passar tão rápido. Vou preparar o almoço.

Harry se levantou e foi para a cozinha, rapidamente colocou uma panela no fogo com água para ferver e passeou pelos armários procurando temperos na geladeira, encontrou carne e frango que serviriam para fazer a mistura.

- Sabe que não precisa fazer isso. – Disse Snape se aproximando.

- Eu sei. – Respondeu Harry começando a lavar o frango. – Mas eu quero, me sinto meio inútil sem fazer nada.

- Estou confuso, Potter. Disse-me que não gostava de fazer as coisas na casa de seus tios.

- É diferente. – Disse Harry lavando a mão e se virando para encarar o homem de braços cruzados. – Lá eu era obrigado a fazer, fazia tudo abaixo de ameaças, se não fizesse apanhava e ficava sem comida. Agora não, estou fazendo porque eu quero fazer. É gostosa a sensação.

Snape não respondeu, apenas balançou a cabeça e indicou que estaria no laboratório. Harry assentiu e voltou sua atenção para o frango. Quando tudo estava pronto Harry ficou indeciso se chamava Snape ou não, sabia que era proibido entrar no laboratório sem permissão, mas estava gostando tanto de ter alguém para conversar que desejava que o professor não tivesse saído da cozinha. Com receio bateu três vezes na porta do laboratório e esperou. Depois de alguns segundos ouviu a voz arrastada indicando que poderia entrar.

O laboratório de Snape ficava no subsolo da casa, era preciso descer uma escada de madeira para chegar até lá. Harry andou devagar, o local era escuro se comparado com o restante do lugar. Havia bancadas com no mínimo cinco caldeirões ferventes, as paredes eram abarrotadas de vidros com coisas estranhas e ingredientes raros. O ar estava esfumaçado e quase não se conseguia ver muita coisa, não havia janela, mas o local era encantado para ser frio e ventilado.

- Sna... pai? – Chamou Harry.

- Estou aqui. – Disse a voz guiando Harry até o final do laboratório onde Snape estava.

O homem estava debruçado sobre um livro lendo alguma coisa que o fazia se concentrar muito e mexia o caldeirão ao lado com a mão livre. Harry não queria atrapalhar, sabia que qualquer descuido seria suficiente para estragar algo que as vezes demorava mais de um mês para ficar perfeito mesmo desconfiando que Snape era capaz de preparar a melhor e mais difícil poção que existisse ainda que estivesse conversando com três pessoas ao mesmo tempo. Tentando não fazer muito barulho se sentou em um banco e apenas aguardou. Snape mexeu o caldeirão mais algumas vezes, acrescentou algum pó de alguma coisa e uma espinha de outro troço que Harry nem se daria ao trabalho de perguntar.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora