Capítulo 21 – Eu vou embora
Harry sentiu que estava viajando em grande velocidade, pois seus olhos viam somente borrões, coisas difusas e confusas, imagens que não queria ver nem ter conhecimento, mas que agora estavam gravadas em sua mente. O vermelho resplandecente dos cabelos de sua mãe voando solto pelo vento no parquinho diante de sua casa quando criança ou no campo de quadribol vendo a Grifinória voar em suas vassouras, viu o sorriso puro que nasceu em seus lábios em momentos diversos e intensos em que sua inocência reverberava pelas paredes do castelo. Queria se lembrar do verde de seus olhos estendendo-se pelo jardim de sua bela casa onde brincava quando criança.
Queria tanto.
Mas só conseguia se ver diante do negro que eram os olhos de Snape sempre o olhando de longe, escondido. O negror de sua alma que por um momento chegou a ser atingido pela avidez da alma de sua mãe, mas que não se deixou ser invadido por sua bondade. O negror que o levou a contar ao Lord o que ouvira sair da boca da mulher que fazia a entrevista com Alvo Dumbledore no imundo Cabeça de Javali.
Harry respirou fundo sentindo-se doente com as imagens que ainda jorravam em seus olhos. Verdades e mentiras, mortes e proteções. Viu-se em vários flashs intensos que passaram rapidamente, assistiu os negros olhos atentos sobre si, preocupados, atenciosos quanto a cumprir uma promessa de culpa.
Era demais.
Quando voltou para o escritório do professor de poções, viu que não havia ninguém ali na sala junto com ele. Snape ainda estava isolado em algum lugar onde Harry provavelmente não saberia onde era. E na verdade não queria saber, não tinha a menor ideia do que acabaria fazendo ao vê-lo entrar pela porta naquele instante. Era melhor ficar quieto, por isso deu dois passos para longe da mesa e se sentou no chão encostando as costas em uma prateleira de livros, seus olhos atentos a bacia de pedra que lhe contara o que queria saber, mas que não deveria saber.
Snape só voltou para o escritório uns trinta minutos mais tarde quando achara que Harry já fora embora. No dia do jogo, quando viu o que o menino havia feito a Malfoy, ficara bravo, mais por ele ter o desobedecido do que pelo ato em si. Harry deveria ter obedecido suas ordens, pois isso é o que fazem os que se importam. Mas Harry Potter sempre fugiu à regra, nenhuma lei era suficientemente forte para impedi-lo de fazer o que queria fazer, o que achava certo e correto. Naquele dia a decepção caiu sobre seus olhos, estava decepcionado e até mesmo triste, mas nada que o fizesse castigá-lo cruelmente. Iria dar-lhe uma detenção de uma semana e um pouco de gelo para fazê-lo entender o que fizera. Mas então o menino tinha que abrir a boca e lhe falar o que estava guardado no fundo. Aquelas palavras que só falamos quando estamos fora de nosso controle.
"Você não sabe amar".
Como ele se atrevia a dizer aquilo na sua cara, depois de tudo que fizera para Lilian? Depois de toda a proteção que dera ao menino, após sua louca preocupação com o bem estar dele, com a sua felicidade e logo após descobrir que no fundo sentia...
Seus pensamentos foram interrompidos quando entrou no escritório. O brilho da penseira pintava o teto do recinto brincando de tremeluzir sua imagem deixando-a grotescamente bonita. Seus olhos negros vagaram pela luz parando sobre a própria penseira onde estavam suas lembranças que retirou para sua mente ficar mais leve. Ela deveria estar dentro do armário, mas estava em cima de sua mesa e isso só poderia significar uma coisa.
- Potter? – Chamou fechando a porta atrás de si. Ninguém respondeu.
Snape deu dois passos para frente e aguardou, estava tudo silencioso e calmo como se não houvesse ninguém mais além dele próprio, porém Snape sabia que ele estava ali, podia senti-lo.
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Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)
RomanceFIC SEVERITUS - NÃO SNARRY! Após tantos anos vendo Harry Potter sofrer nas mãos de seus tios, Dumbledore finalmente consegue uma forma de passar o laço de sangue de Lillian para outra pessoa. A partir desse momento Snape se vê obrigado a aturar o me...