Você o matou?

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Capítulo 12 – Você o matou?

A sala era tão bem conhecida por seus pés que não era necessário ligar as luzes para atravessar o pequeno espaço que o separava da cozinha. Ali estava tão escuro quanto a sala e talvez mais frio, ele não ligou, apenas passou os dedos pelos armários antigos e seguiu a passos lentos até encostar no metal frio da geladeira. Assim que abriu a porta e sentiu-se banhado pela luz branca lembrou-se do menino naquele mesmo lugar olhando interrogativamente para as prateleiras vazias assim que chegou ali, conseguia até mesmo ver novamente as sobrancelhas grossas se juntarem em claro questionamento sobre aquele utensílio. Não podia mentir que achou engraçado explicar que mesmo sendo um bruxo e não necessitando de uma geladeira para que seus alimentos se mantenham frios e conservados, a tinha pelo simples fato de gostar de alguns utensílios trouxas.

Se sentindo cansado pegou a jarra de suco e saboreou o gosto delicioso do refresco bem preparado pelo menino. Inconscientemente abriu novamente a geladeira e reparou em cada item que estava ali dentro. Não se lembrava de ter tido a geladeira cheia daquela forma antes, nem mesmo gostava da metade das coisas que havia comprado, assim como os cereais no armário junto com as bolachas. De uma coisa pelo menos tinha completa certeza, Harry jamais passaria fome novamente. Dando uma risada baixa pegou o copo e saiu para o jardim. A noite estava muito bonita com uma lua grande, perfeitamente redonda e brilhante. Arrumando a capa sentou-se no chão e tirou o sapato mexendo os dedos na grama recém-aparada.

O suco ficou quente e as folhas da grama ficaram molhadas com o orvalho da manhã quente que começava. Ficara tão perdido em pensamentos que nem mesmo percebera a presença do menino atrás de si, só se deu conta quando ele se aproximou e parou ao seu lado.

- Você vai acabar ficando doente. – Disse fazendo-o bufar. – Posso me sentar com você?

Snape levou os olhos negros até o rosto dele e viu os cabelos espetados para todos os lados emoldurando o rosto jovem com bochechas vermelhas abaixo dos olhos inocentes. Voltou os olhos para frente vendo o pequeno jardim que fora muito bem cuidado pelas mãos hábeis do grifinório. Respirando fundo levantou um pouco o corpo e puxou a capa para o lado deixando cair a quantidade suficiente para que o menino pudesse se sentar. Harry sorriu e se arrumou naquele cantinho ao lado do homem, Snape se mexeu de leve sentindo o menino encostado em seu corpo enquanto se cobria com a capa negra.

- Se está com frio deveria ter colocado uma blusa. – Disse olhando-o tremer com o vento da manhã.

- Estou bem. – Disse Harry.

Snape bufou e esticou a outra ponta da capa para que o menino se cobrisse. Harry aceitou de bom grado e se sentiu quente quase imediatamente. Por alguns minutos apenas ficou ali sentado olhando para o céu azul que se pintava lentamente de vermelho e depois para o jardim que aos poucos mostravam suas belas flores. Um vento frio fez Harry se encolher um pouco mais perto de Snape causando-lhe um olhar assustado. O menino respirou fundo e devagar encostou a cabeça no braço dele fazendo-o se encolher um pouco como se tivesse medo daquele ato.

- Desculpe. – Disse Harry se afastando e ajeitando a capa para se cobrir direito. – O que é isso? – Perguntou ao sentir algo estranho na capa do homem. Ao passar a mão mais uma vez e aproximar o pano de seus olhos, percebeu que aquilo era uma mancha de sangue seco. - Você saiu à noite? – Sussurrou Harry olhando-o intensamente.

- Sim. – Respondeu Snape calmamente olhando-o também.

- Onde você foi?

- Longe.

Harry estreitou os olhos e tocou no sangue seco sentindo a mão tremer. Olhou para os olhos negros e viu dentro deles a verdade de onde esteve. Respirando fundo enquanto sentia uma dor no peito ajoelhou-se virado para o homem e abriu a boca querendo falar o que o medo não deixava escapar.

Traiçoeiros Sentimentos (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora