vou te sequestrar

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Oi!

Eu sei que sumi, tipo, por muito tempo, mas é que eu tava num bloqueio tão ferrado que eu tava até com dó de mim mesma, e os vestibulares não tavam deixado nada mais fácil. Peço desculpas pela demora.

Espero que gostem do capítulo!


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A loira estava dentro de seu carro, estacionada em frente ao endereço que a contadora havia passado a ela. Um único prédio erguia-se entre os muros do condomínio, que tinha apenas um lugar pelo qual se podia entrar e sair. Um portão para os carros e uma pequena guarita, que compunha a portaria do local. A vizinhança era tranquila, sem muito tráfego de veículos e pessoas, apenas algumas crianças brincavam de bola no fim da rua em que a morena morava. Descalços e sujos, os meninos e meninas pareciam estar tendo muita diversão, já que as risadas e gritos de incentivo podiam ser ouvidos mesmo de onde a loira estava.

A cena faz a psicóloga relembrar a própria infância, e por um breve momento Marcela é capaz de visualizar uma versão menor de si mesma ali, correndo e brincando com as outras crianças, aproveitando a inocência e a simplicidade de uma fase de sua vida que não voltaria mais. Ao contrário do que vocês podem vir a imaginar, o pensamento não traz melancolia à loira, mas sim uma nostalgia gostosa. Já fazia um bom tempo que a loira havia deixado de lamentar o passado. 

Para Marcela, querer voltar no tempo ou até mesmo alterar a própria história era uma perca de tempo, uma linha de pensamento que só trazia sentimentos ruins e dolorosos. Não valia  a pena. Melhor era apenas guardar as lembranças num lugar de carinho, como tesouros a serem preservados, admirados, mas nunca manipulados ou alterados. O passado não podia se tornar uma barreira ou algo a se prender. Simone de Beauvoir, uma dos ídolos da loira, certa vez disse:

"O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minha necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele."

Como uma boa ouvinte, a psicóloga havia começado a seguir a filosofia deixada por uma de suas escritoras favoritas. Focar no presente, usando o que passou como trampolim, nunca como muleta ou âncora. 

E seu presente havia acabado de sair pelo portão do condomínio a sua frente, vestindo um vestido floral rodado, sapatilhas e os cabelos presos num rabo de cavalo. A morena vinha em direção ao carro com um sorriso no rosto, que faz com que a loira sorria também. A psicóloga prontamente sai do carro e o contorna, parando em frente a porta do passageiro.

— Oi. — A morena fala tentando omitir o sorriso, escondendo os braços atrás de si mesma.

— Oi, Gi! — Marcela fala sorrindo fraco.

As duas mulheres ficam paradas uma de frente pra outra, numa linha tênue entre timidez e falta de reação. Por mais que as duas quisessem e gostassem de estar juntas, era algo que elas não faziam há muito tempo, muito menos depois dos beijos. Seus últimos encontros ou foram profissionais ou começavam com discussões, como lidar quando a raiva não pode ser utilizada como ferramenta pra esconder os sentimentos?

Gizelly se balançava levemente, o corpo indo pra trás e pra frente numa tentativa de converter sua ansiedade em energia cinética. Marcela mexia no cabelo, sem saber ao certo como cumprimentar a amiga. Um abraço? Um beijo na bochecha? Talvez um selinho? Um aperto de mão?

— Você fica muito bonita com o cabelo solto. — A contadora comenta despretensiosa, após passar alguns segundos analisando cada movimento que a loira fazia.

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