pode me chamar de Gizelly

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Uma semana havia se passado desde o último encontro das mulheres. Gizelly havia refletido muito durante o tempo em que ficaram separadas, questionando a tudo e a todos. A psicóloga havia conseguido plantar a sementinha da dúvida em sua cabeça, e isso era tanto bom quanto ruim. Bom porque era o primeiro passo pra morena entender que não havia nada errado com ela, e ruim porque a saída da ignorância sempre é dolorosa.

A contadora passou aquela semana inteira questionando o que ela havia descobrido por si só e o que lhe havia sido imposto, tanto pela igreja quanto por sua mãe. Que opiniões e convicções eram realmente dela e quais não eram, e suas descobertas haviam a deixado assustada. Ela havia se tocado que muito do que ela pensava era uma mera reprodução do que sempre havia ouvido por aí, reprodução de pensamentos que muitas vezes nem faziam sentido, porém ela seguia sem pestanejar. E então ela começou a se questionar por que ela seguia tais coisas sem resistir.

"Se nem a ciência é absoluta, por que suas convicções têm de ser?"

A frase que a psicóloga havia dito ficava passando de novo e de novo no fundo de sua mente enquanto todas essas outras dúvidas corriam soltas. Durante toda a semana a morena questionou tudo que fazia, desde como se portava em público até como sua personalidade mudava ao estar sozinha em casa. Questionou também o fato de porquê fora ensinada a não questionar.

Porque Deus é a certeza.

Foi seu pensamento e resposta imediatos. Então, mais uma vez ela questionou porquê.

Porque me foi ensinado assim.

E foi nessa onda que a contadora começou a entrar numa verdadeira jornada de questionamentos e conflitos com a própria mente. O ápice de seus pensamentos conflituosos ocorreu na madrugada de terça feira, um dia antes da consulta, onde ela teve a maior crise existencial de sua vida.

Enquanto a morena dirigia até o consultório ela tentava montar um roteiro do que falar com a psicóloga. Há uma sessão atrás ela estava certa de que as consultas seriam apenas desperdício de seu tempo, porém ela havia gostado de conversar com a loira. Ela passou tanto tempo guardando tudo pra si que se abrir com alguém, mesmo sobre coisas banais como seu apreço por cores, era libertador.

Gizelly estaciona o sedan grafite em frente à clínica e sai do veículo apressadamente. Estava ansiosa. Tinha muitos questionamentos em sua cabeça e sentia que Marcela poderia ajudar com alguns deles. Ainda estava longe de achar a atração por mulheres algo normal afinal ainda achava errado, só não entendia bem o porquê de achar aquilo, e isso a incomodava.

Isso também não significava que não queria mais deixar de gostar de mulheres. Esse ainda era seu maior desejo. Seria tudo tão mais fácil se ela apenas gostasse de homens.

A morena mal fica na sala de espera, já que havia chegado em cima da hora de sua consulta. A loira abre a porta e ela não tarda em entrar na sala, logo se acomodando na cadeira e dando uma rápida olhada no ambiente. Estava tudo basicamente no mesmo lugar, tirando algumas fichas que se encontravam espalhadas pelo cômodo, sobre um dos armário e uma no lado oposto a pilha na mesa. Aquela era a sua própria ficha.

— Boa tarde, senhorita Bicalho.

— Boa tarde! — Diz a morena com agitação.

— Como você está?

— Com muitas dúvidas.

— Ótimo! — A loira diz prendendo o rabo de cavalo que usava num coque e se sentando em sua cadeira. Dessa vez a prancheta nem sequer estava em sua mesa, e a caneta jazia na caneca próxima da bandeira de arco-íris. — Quais?

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