toda ouvidos

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Marcela tamborilava os dedos de ambas as mãos sobre a mesa, produzindo um som ritmado com a ponta de suas unhas, som que acompanhava o compasso de seu coração. Conforme os minutos iam passando, mais rapidamente a mulher tamborilava e mais aceleradamente seu coração batia. E tão acelerado quanto seu coração, estava seu cérebro. A mente da psicóloga não parava de girar, passeando por todos os cenários e conversas possíveis, no nível de deixar a loira tonta sem ao menos sair do lugar. O álcool era a cereja do bolo, já que proporcionava a mulher mãos suadas e uma sensação de calor descomunal. O corpo da loira estava a beira do colapso, porém sua aparência não poderia estar mais serena.

Ela e Bella haviam retornado a mesa dos amigos, que já haviam esquecido o assunto dos ficantes e entrado numa discussão acalorada sobre política. A massagista rapidamente faz questão de entrar na discussão, enquanto Marcela diz que iria apenas observar os pontos de vista, arrumando uma desculpa para poder ficar em seu canto, se concentrando para não surtar. E assim a loira estava há meia hora, tamborilando os dedos alheia a conversa dos amigos, olhando para a varanda e tentando não ter um piripaque.

— Acho que sua convidada chegou. — Bella diz aproximando o rosto da orelha da loira e sussurrando.

Marcela então respira fundo e olha pra trás, encontrando a silhueta da contadora terminando de subir as escadas.

— Me deseje sorte. — A loira devolve num sussurro e se levanta, deixando Enzo e Luiza com grandes pontos de interrogação sobre a cabeça.

— Onde ela tá indo? — A cantora pergunta. 

— Depois ela explica pra vocês. — A massagista responde. — Agora vamos voltar pra nossa discussão.

— Não é uma discussão quando todo mundo concorda, e assim nem graça tem. — Luiza diz querendo se livrar do assunto para poder prestar atenção na psicóloga e na morena misteriosa. — É legal quando tem a pessoa do "ok, mas e o PT?".

— Vamos pelo menos fingir que a gente não tem interesse na conversa daquelas duas, vai. — Enzo fala pra cantora. — Pela Marcela.

— Tá, mas só porque é pela Marcela. — Luiza diz desistindo de xeretar.

Do outro lado do estabelecimento, psicóloga e a paciente finalmente se encontram. Gizelly exibia uma cara de poucos amigos, como se estivesse ali obrigada. A verdade é que a morena estava ansiosa, e com certo medo, então havia assumido sua postura defensiva. Marcela não foi capaz de perceber isso, pois estava focada demais em não deixar seu próprio nervosismo transparecer.

— Oi, Gi. — A loira diz o mais serena possível, pondo as mãos no bolso da calça.

— Oi, Marcela. — A morena rebate sem muita simpatia, cruzando os braços. 

— Prefere se sentar ou... — A loira começa a dizer e a contadora ergue uma das sobrancelhas. — Vamos nos sentar então.

As duas mulheres seguem até a varanda, se sentando na primeira mesa que encontram. O ar fresco invade os pulmões de Marcela como, literalmente, um sopro de alívio. A loira respira profundamente e sente os músculos de seu corpo, até agora tensionados, relaxarem. A morena, porém, prefere continuar atrás de sua armadura.

— Aqui está bom? — A loira pergunta temendo a resposta, já que Gizelly estava um tanto quanto arisca.

— Está ótimo. — A contadora responde olhando para os lados, logo apoiando as mãos entrelaçadas sobre a mesa gelada. — Sou toda ouvidos.

— Ok... Então vamos lá. — A loira fala tomando coragem. — A gente precisa decidir como vamos nos relacionar daqui pra frente.

A morena repuxa o lábio e, lentamente, acena positivamente com a cabeça.

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