eu te conheço

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Gizelly nunca gostou de bebidas alcoólicas, de nenhum tipo. Crescendo, a menina sempre foi ensinada que o álcool era algo horrível e que só trazia coisas ruins, portanto nunca se interessou pelo consumo do mesmo. Só foi ter seu primeiro contato com uma bebida alcoólica ao chegar na capital, em uma confraternização de sua turma da faculdade – que, aliás, foi a primeira e última na qual ela foi.

A festa tinha todo tipo de bebida que se podia imaginar, cerveja, gim, até mesmo whiskey, e somente o cheiro de álcool era capaz de deixar a morena com náuseas. Por insistência de uns colegas, porém, a estudante provou um pouco de vodca. Seu primeiro impulso foi cuspir a bebida ao sentir o gosto amargo inundar seu paladar, mas manteve sua compostura. Provou álcool mais algumas vezes após aquele evento, durante o período de faculdade, mas conclui que não foi feita pra aquilo. O gosto amargo era horrível, beirando o intragável, e ela não via o porquê de se acostumar com algo que não lhe traria benefício.

Na noite da balada, porém, a contadora sabia que o álcool era o único capaz de lhe dar coragem para fazer o que ela tinha de fazer. Bebeu até sentir a ponta de seus dedos das mãos começarem a formigar, ou até que sua vista começou a embaçar, não sabia ao certo qual das duas opções lhe atingiu primeiro. O fato era que: estava mais do que bêbada. Não era acostumada a beber, e havia passado do ponto. As memórias da noite anterior lhe atingiam como forma de flashes, de modo que ela só ia descobrindo o que havia acontecido conforme o dia ia passando e sua cabeça parando de doer. Também havia ficado com uma ressaca daquelas. Sua única sorte foi não ter dado PT – pelo menos era isso que ela achava, já que não se recordava de muita coisa da noite passada.

O domingo da contadora havia sido miserável, e o pior é que ela sabia que toda a bebedeira havia sido em vão. Gizelly não se lembrava de muita coisa, mas se teve um evento que seu cérebro fez questão de guardar foi ela flertando com sua psicóloga. Mais do que flertando, praticamente se jogando em cima da loira. A morena passou o dia se martirizando por ter sido tão atirada

Agora ela sabe que eu me atraio por ela. Merda!

Pensava a contadora enquanto sua cabeça latejava de dor. A mulher teve de recorrer a internet para ver como se livrar da maldita ressaca, já que nunca havia passado por aquilo antes. Ela se sentia uma adolescente inconsequente, e se tinha uma coisa que a morena odiava era abrir mão do controle. Ficar bêbada era um pesadelo concretizado para Gizelly.

Mas ela pode achar que era a bebida falando também.

A contadora concluía após minutos matutando e pensando em como iria encarar a psicóloga novamente. Só de pensar em ter de encontrar a loira suas bochechas ardiam e adquiriam um tom avermelhado, deixando a vergonha evidente em sua face.

Mas como diz o ditado: a bebida entra e a verdade sai.

E então todo o ciclo de tortura se reiniciava, fazendo a contadora se arrepender cada vez mais de ter decidido sair de casa na noite anterior. Nada disso teria acontecido se ela tivesse pego algum dos retornos, ou melhor, nem sequer saído de casa.

Marcela não passava por uma situação muito diferente. Por precaução, Luiza havia decidido passar a noite em sua casa. Bella havia se oferecido, porém a cantora insistiu que fosse ela. Em suas próprias palavras: "se tem duas coisas que eu entendo bem é bêbado e coração partido". A psicóloga podia até não ter um coração machucado, mas um orgulho ferido com certeza estava na mesa, assim como a falta de sobriedade. E se o coração e o orgulho tem algo em comum, isso é o sentimento de idiotice e a vergonha que eles causam ao se partir.

A loira acorda com a mesma dor de cabeça com a qual se deitou, e por isso já inicia seu dia xingando a Deus e o mundo. Luiza respira fundo ao ouvir os resmungos da amiga, entrando em seu quarto em seguida com remédio pra ressaca em uma mão e uma bela xícara de café na outra.

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