você quer ir?

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Eu podia sentir, sobre meu ombro desnudo, o hálito quente da loira. Sua respiração era pesada e por mais que eu não pudesse ver seus olhos eu sabia que eles estavam cravados sobre mim, praticamente me devorando. Me sentia como uma presa, apenas na expectativa do bote, e Marcela parecia sedenta. Parecia não, ela estava. Sua presença era forte, intimidadora, quase sufocante, mas eu não me importava. Eu gostava de estar sendo caçada, gostava de ser sua presa e estava disposta a entrar em seu jogo.

A mulher começa a andar ao meu redor, como se avaliasse o terreno, e eu tento acompanhá-la com o olhar. A luz fraca do ambiente tornava tudo mais misterioso, além de aumentar a tensão presente entre nós duas. Os tons de roxo das paredes também desempenhavam sua função, deixando o ambiente aparentemente menor, mais abafado, mais quente.  

— Ainda quer fugir? — A loira pergunta com a voz rouca e sinto ela parar atrás de mim. Em seguida sinto meus cabelos serem gentilmente colocados sobre meu ombro direito, deixando minha nuca livre. Sinto a respiração da mulher atrás de mim se aproximando, me fazendo arrepiar. — Ainda dá tempo de correr. — A mulher fala praticamente num suspiro, quase encostando seus lábios em minha orelha.

Sinto a respiração traçar um caminho da minha orelha, passando pela minha nuca, até chegar em meu pescoço. Ali a loira deixa um beijo molhado, me fazendo jogar a cabeça para trás em resposta. Num contraste interessante, o ambiente parece ficar mais quente após o contato gelado.

As mãos da mulher atrás de mim se posicionam sobre a minha cintura, me puxando para mais perto de seu corpo. Sua boca começa a traçar uma trilha de beijos até a ponta de meu ombro, e a loira faz questão de abaixar a alça de meu vestido ao passar por ela. Ela queria sentir minha pele, e queria me fazer sentir seus beijos ao máximo.

— Se você pedir eu deixo você ir. — Marcela volta a falar assim que para os beijos.

O aperto em minha cintura fica mais firme e eu tenho de me segurar pra não arfar. Eu não queria ir embora, e ela sabia disso, porém ela tinha de falar aquilo. Ela estava fazendo um jogo comigo, e sendo sincera, eu não me importava em ser sua peça por uma noite.

Uma de suas mãos desliza de minha cintura até o zíper de meu vestido. Marcela começa a abrir a peça com a maior vagareza do mundo, me fazendo arrepiar ao sentir sua respiração quente sobre minhas costas agora desnudas.

— Me diz Gizelly... — A loira diz passando a mão suavemente pelas minhas costas. — Você quer ir?

Antes que a contadora pudesse responder a provocação, seus olhos se abrem e a claridade do dia se faz presente em seu quarto. A primeira coisa que sai de seus lábios é um arfar de frustração. Logo em seguida, a morena se dá conta do que havia acabado de acontecer.

Eu sonhei com a minha psicóloga.

Pior que um mero sonho, foi um sonho quente, que só não se tornou erótico por ela ter acordado antes. Assim que a ficha cai a contadora se levanta da cama num pulo, logo correndo até o banheiro e jogando uma boa quantidade de água gelada sobre o rosto. Inconscientemente a morena esperava que a água lavasse seus pensamentos e, de alguma forma, apagasse o sonho de sua mente. Porém aquilo não acontece. Se fitando no pequeno espelho que ficava sobre a pia, a mulher trata de tranquilizar a respiração que estava um tanto quanto acelerada. Gizelly não saberia dizer se era pelo sonho ou pelo susto, porém a resposta não era exatamente importante naquele momento.

A contadora sabia que estava se acostumando com a ideia da homoafetividade, tanto dos outros quanto a própria, porém sonhar estar se envolvendo com outra mulher era muita informação pra ela.

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