porque é errado

659 72 61
                                    

Gizelly adentra o consultório e a primeira coisa que chama sua atenção é a paleta de cores que cobria as paredes da pequena sala. Uma tinta branca substituía a frieza do cinza presente do lado de fora e os tons de azul eram mais leves, passando a já conhecida sensação de calma. Era um ambiente mais acolhedor que a sala de espera - e mais tranquilizante também. Não havia muita mobília ali, apenas dois armários metálicos no canto, uma mesa de escritório de madeira compensada e duas cadeiras, uma giratória estofada para a psicóloga e outra apenas estofada para o paciente. A médica pede licença para fazer algo mas pede pra que a morena se acomode, e assim ela faz.

A contadora se senta na cadeira e aproveita o tempo livre para observar cada detalhe que seu primeiro olhar havia deixado passar. O modo que os post-its estavam postos sobre a mesa era metódico, seguiam uma lógica que lhe era familiar, organizados por cores; já as canetas ficavam dentro de uma caneca branca com alguma frase ilegível; e as fichas de pacientes formavam uma pequena pilha ao lado do Notebook, a esquerda da mesa. Haviam também dois ou três livros próximos da pilha de fichas. Dois itens curiosos ali contidos eram duas mini bandeiras, uma de arco íris e outra com as cores azul, amarelo e rosa, ambas dentro da caneca das canetas. Gizelly logo assemelhou a bandeira arco íris a bandeira do orgulho LGBT - pois havia vistos muitas dessas nos anos de república - porém não fazia a mínima ideia do que a outra poderia significar.

Mas por que um local de terapia para cura do homossexualismo teria uma bandeira do orgulho sobre a mesa?

Antes que a contadora pudesse achar uma resposta para sua própria pergunta, a psicóloga entra novamente na sala e fecha a porta atrás de si. A mulher usava um jaleco e tinha o cabelo loiro preso num coque, penteado que evidenciava seu maxilar delicadamente desenhado, assim como suas maçãs do rosto e seu nariz eram. A morena balança a cabeça, afastando tais constatações de sua mente. Ela estava ali para se livrar daquele tipo de pensamento, não ter mais. A psicóloga se senta na cadeira giratória e abre uma ficha vazia, colocando seu óculos, e logo pegando uma folha em branco e uma caneta. O clique do objeto faz a morena acordar para a realidade, dando de cara com a loira lhe abrindo um sorriso simpático.

— Boa tarde! — A doutora diz simpática. - Meu nome é Marcela.

A loira estende a mão para a contadora. A morena junta suas mãos num aperto rápido e puxa o braço o mais rapidamente possível, querendo não fazer muito contato com a mulher a sua frente. Ela ainda não estava curada, então tinha medo de sua própria cabeça e do que ela era capaz de pensar.

— Gizelly. — Fala de modo sucinto.

— Não nos conhecemos ainda, então quero que você me fale um pouco sobre você. — A loira diz ajeitando o óculos no rosto e dando mais dois cliques na caneta.

— Bom, eu tenho vinte e três anos, sou contadora e moro no interior de São Paulo.

— Você não tem sotaque paulista. — A médica comenta, tirando os olhos do papel para olha-la.

— Fiz faculdade aqui em São Paulo, acabei perdendo o sotaque do interior. — Gizelly fala sorrindo de leve e a loira sorri também.

Droga, o sorriso dela é lindo também... Foco Gizelly! Você veio pra se curar, não pra ficar afim da médica.

— Fez onde? — Marcela pergunta voltando a olhar para o papel e fazendo algumas anotações.

— USP.

— Uma ótima faculdade. — Comenta a loira e a morena ergue sua postura, se enchendo de orgulho. — Como foram os anos aqui?

— Nada de muito diferente de quando eu morava no interior. — A contadora dá de ombros. — O ambiente mudou muito, mas mantive meu modo de vida.

my favorite sinOnde histórias criam vida. Descubra agora