Naquela tarde de quarta feira, pela primeira vez em duas semanas, a psicóloga não tinha relatórios para atualizar ou terminar de preencher. Ela havia decidido levar o trabalho acumulado para casa, e havia valido a pena pois agora ela estava totalmente livre para atender seus pacientes sem ter de se preocupar com papelada.
A loira não chegava nem perto de ser uma pessoa religiosa, e embora fosse familiarizada com alguns dogmas do cristianismo, não ia muito além disso. Naquelas últimas semanas, porém, Marcela se viu pedindo a Deus – caso ele existisse – para que ele cuidasse da advogada. A loira não acreditava em nenhuma divindade, porém como sentia-se impotente demais naquela situação, se viu recorrendo a uma força maior que ela. Não sabia se havia adiantado de alguma coisa, porém havia tentado. Ela nem sabia direito como fazer aquilo, pedir por preces, mas fez de seu jeitinho e torceu para que o cara lá de cima fosse compreensivo com sua situação.
A verdade é que Gizelly parecia ter retrocedido, tanto que as duas mal trocavam mensagens mais. A morena parecia cada vez mais distante durante as consultas, e aquilo estava deixando a psicóloga preocupada.
Marcela ajudava como podia, dando seus conselhos habituais e tentando retomar a proximidade que tinham, porém tudo parecia em vão. A loira até tinha apelado pra tática de trocas as coisas de lugar, mas a estratégia parecia ter perdido o efeito. Agora tudo que a morena fazia era comentários sucintos sobre a reorganização. Gizelly parecia cada dia mais retraída e mais fechada a ideia de considerar sua atração por mulheres normal. Haviam dias em que a loira tinha vontade de ir até a contadora e a abraçar, suplicando pra que ela se lembrasse o porquê daquilo e para que elas voltassem a ser "próximas" de novo, porém ela sabia que não podia fazer aquilo. Tudo que lhe restava era esperar até que a morena lhe desse abertura novamente, e rezar.
A loira estava mexendo em seu celular quando ouve o barulho de sua maçaneta girando. Num movimento rápido a psicóloga guarda o aparelho, logo arrumando a própria postura.
— Oi Gi! — A loira fala com um sorriso.
— Oi Marcela. — A morena fala bocejando.
A mulher usava um terninho preto e, pela primeira vez, tinha os cabelos escuros presos num rabo de cavalo alto. O penteado ficava muito bem na morena, dava um ar sexy, porém Marcela não deixou sua cabeça ir mais longe que isso em sua análise a respeito do cabelo de Gizelly. Um óculos de sol preto completava o visual, deixando a mulher com uma aparência prepotente. É óbvio que parte da aparência vinha do modo de se portar da morena, mas a roupa ajudava.
— Com sono a essa hora? — A psicóloga pergunta brincando.
— É... — A contadora fala sentando-se em sua cadeira habitual. — Eu não ando conseguindo dormir direito.
— Por isso os óculos escuros?
— É...
A morena fala e suspira, deixando seu corpo relaxar sobre a cadeira e mandando a postura de poder se esvair. Gizelly estava notoriamente cansada, e isso só deixa a loira mais preocupada com ela do que já estava.
— Mas que por? — Marcela pergunta não querendo deixar o assunto morrer. — Você tá com insônia?
— Quem dera fosse simples assim.
— O que é então?
A contadora fica um momento em silêncio e então retira os óculos, deixando olheiras profundas e escuras a mostra. A visão assusta um pouco a loira e ela tem a impressão de que suas orações não estavam funcionando. A morena então suspira, massageando as têmporas com ambas as mãos, parecendo ponderar se contaria ou não o que estava a privando de seu sono.
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my favorite sin
FanfictionHá muitas concepções do que se é certo e do que se é errado. Pra certas religiões, o pecado representa as ações que podemos vir a cometer e que não são corretas, não são decentes ou adequadas. Para Gizelly, seu maior pecado era gostar de mulheres. A...