lanche é almoço

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Mais uma quarta feira chegava, e com ela, uma outra consulta da contadora. A morena e sua psicóloga não haviam se visto novamente depois do agradável café, mas mantiveram mais contato que o normal via whatsapp. Falavam sobre tudo, de entretenimento até filosofia, de modo que chegaram a conversar durante horas no domingo sobre assuntos aleatórios. Durante todo aquele fim e começo de semana a morena teve certeza de que havia feito a escolha certa ao se render. Os sonhos não foram embora, porém agora eles pareciam menos incômodos, e no fim seguir o conselho lhe rendeu uma boa companhia pra bater papo.

Gizelly só estava curiosa pra saber como seria a nova dinâmica durante as consultas. Elas conversariam mais descontraidamente ou nada iria mudar? Querendo ou não as sessões eram o trabalho da loira, não dava pra Marcela trata-la como se estivessem conversando numa praça ou na sala de casa. Ou dava? A contadora se questionava se a impessoalidade que poderia vir a acontecer no consultório a deixaria de alguma forma desconfortável ou confusa. A morena estava ciente que eram situações diferentes, mas não sabia se seu coração seria capaz de compreender caso a loira não fosse tão despojada quanto quando elas conversam por mensagem.

Marcela, por sua vez, sentia como se estivesse andando numa corda bamba. A psicóloga sabia que a morena era muito abalável, por mais que se fizesse de casca grossa. Passou uma boa parte do seu fim de semana pensando em como conduzir a consulta, analisando todas as variáveis que conseguia imaginar, até que decidiu que iria realizar o atendimento da mesma forma de sempre. Aquele ainda era seu emprego, e ela zelava por manter uma postura profissional sempre.

Assim que acordou, a loira mandou uma mensagem pra morena.

Marcela: "Bom dia :)"

Ciente de que a contadora costumava demorar a pegar o celular, a loira foi tomar um banho. Deixou a água quente lavar sua pele e levar com a sujeira todas as inseguranças e dúvidas que a rondavam. Mesmo que já estivesse bem melhor, o fantasma do amor de Bianca ainda aparecia as vezes pra lhe assombrar, e um banho sempre ajudava a espanta-lo. Enquanto se banhava, prometeu a si mesma que nunca mais assistiria a comédia romântica favorita de sua ex antes de dormir.

Ao sair do banheiro a loira vai diretamente até seu quarto, pegando a primeira calça jeans e camiseta que encontra. Passa seu perfume habitual e arruma seu cabelo num coque que beira a perfeição. Pega seu celular e verifica que a contadora havia lhe respondido.

Gizelly (Paciente como era Jesus): "Bom dia!"

Gizelly (Paciente como era Jesus): "Tudo bem?"

Marcela: "Tudo ótimo"

Marcela: "E ctg?"

Gizelly (Paciente como era Jesus): "Também estou bem"

A loira sorri ao ler a mensagem e bloqueia a tela do celular em seguida, indo tomar seu café da manhã, afinal, não queria chegar atrasada na clínica. A contadora também deixa seu celular de lado, porém como já havia tomado café da manhã ela vai direto para seu carro, se dirigindo até a firma em que trabalhava.

As duas mulheres passam a primeira parte do dia realizando uma atividade em comum: trabalhar. Gizelly passa a manhã inteira em frente a um computador, mergulhada em tabelas e números sem fim. Era um trabalho chato, de fato, porém era melhor do que ficar lavando e passando enquanto o marido trabalhava - que era o que acabaria acontecendo caso ela seguisse os planos de sua mãe de não fazer faculdade.

Dona Márcia sabia os problemas que a dependência financeira trazia melhor que muitos por aí, porém mesmo assim ainda confiava no modelo patriarcal de organização familiar, e isso foi uma coisa que a contadora nunca conseguiu entender. Pela lógica, a mãe da contadora deveria a incentivar a ser independente para que a filha não passasse pelos maus bocados que ela passou, porém não era bem assim. Gizelly achava que, no fundo, sua mãe só esperava que ela tivesse mais sorte do que ela mesma teve. Os planos de Márcia não poderiam ter dado mais errado, já que justo as últimas duas coisas que a morena queria eram dependência e um homem.

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