me chamando de vilã

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No dia seguinte ao do encontro, Marcela foi acordada pelo canto de alguns pássaros que pousaram perto de sua janela. A loira morava numa região bem arborizada da cidade, então vez ou outra era possível acordar ouvindo sons de pássaros e do farfalhar das árvores. Não era algo muito comum, porém ocorria de vez em quando. A mulher abre os olhos, esfregando-os com as mãos por conta do incômodo da claridade, e então abre um sorriso. Ela havia tido uma ótima noite de sono, uma noite de sono que não tinha há um bom tempo, e ela sabia muito bem o motivo.

O encontro com a contadora havia deixado a loira nas nuvens, e para sua sorte ela não havia despencado de cara no chão, muito pelo contrário inclusive. A psicóloga se sentia revigorada, e pronta para encontrar a morena mais uma vez. Uma leve tristeza a atinge ao se lembrar de que não veria Gizelly durante aquela semana, já que não a atendia mais, porém a psicóloga logo trata de afastar tal sentimento ruim e aproveitar a aura de energias boas que a circundava naquela manhã ensolarada.

Enquanto Marcela não poderia estar mais leve, leveza era tudo que faltava para a contadora. 

A questão das relações sexuais – e da ausência delas também – havia atormentado a morena durante o restante de sua noite, e pelo jeito lhe perseguiria durante o dia também.

Sexo nunca foi um problema ou uma preocupação para Gizelly, até porque ela não havia cogitado realizar tal ato até aquele momento. Ela já havia sentido tesão e pensado em transar com alguém, obviamente, mas concretizar seus pensamentos era algo completamente diferente. A morena nunca havia nem ao menos se masturbado. De certa forma, a decisão de se guardar até o casamento faz com que você não se preocupe com ser virgem ou com a falta de experiência, porque há um certo conforto ao saber que você e a outra pessoa estarão ambas tendo sua primeira vez. Se envolver com alguém que não é virgem e ainda por cima é do mesmo gênero mudava tudo de perspectiva para a contadora. Porque assim, em relações heterossexuais a morena pelo menos tinha uma ideia de como o sexo funcionava, mas como era numa relação entre pessoas do mesmo gênero? O que acontecia, exatamente?

Gizelly se viu sem o conforto e sem qualquer tipo de conhecimento a respeito do assunto, e esses dois fatores combinados só podiam resultar em uma coisa: insegurança.

Se o preconceito internalizado já não fosse o bastante, ainda havia mais essa questão da insegurança da morena a respeito de sua virgindade. Ela sabia que Marcela já havia transado antes, e isso era algo que lhe deixava com medo. Medo de fazer errado ou de não ser tão boa quanto as outras pessoas com a qual a loira já havia se relacionado.

Escolher não ter relações era uma opção, mas a morena temia perder a psicóloga se falasse que não queria transar com ela – além de que ela estaria mentindo se dissesse isso. Seus sonhos estavam aí de prova. O problema era que Gizelly tinha vontade, mas essa vontade era sufocada pelos pensamentos negativos supracitados.

Como eu posso querer transar com alguém sendo que eu nem sei como é transar?!

Foi uma das frases que a contadora mais repetiu a si mesma enquanto debatia e pensava sobre o assunto.

O primeiro passo para a contadora poder se livrar de seus problemas relacionados ao sexo era justamente descobrir como ele funcionava entre duas pessoas do mesmo gênero, a questão era: como? A morena poderia muito bem jogar no Google, porém ela tinha medo de que tipo de resultados lhe seriam mostrados; pornografia estava fora de questão; e ela não tinha nenhuma amiga que pudesse lhe explicar. A única mulher que poderia lhe dar algum tipo de informação era a mulher com a qual ela estava se relacionando, e a contadora já achava ruim o suficiente ser virgem, pedir para a loira lhe ensinar parecia humilhante demais.

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