precipitado

549 69 174
                                    

A contadora andava de um lado pro outro em sua sala de estar, roendo as unhas como não fazia há muito tempo. Ela estava nervosa, ansiosa, tão ansiosa que sentia seu coração pular no peito como se uma bateria de escola de samba estivesse dentro dele. Marcela havia a convidado para ir até sua casa assistir a algum filme, talvez uma série, e isso estava fazendo a morena entrar em pânico.

Eu posso dizer que estou ocupada.

Foi a primeira ideia que passou por sua cabeça, mas foi descartada logo de cara. Era um domingo, portanto a morena não tinha que trabalhar, e o dia chuvoso descartava qualquer plano de passear pela cidade. Era um típico dia de fazer nada, um dia que a contadora provavelmente passaria ele inteiro na frente da TV de qualquer forma. E Marcela sabia disso, caso contrário não teria a convidado.

Eu posso só falar que não quero ir.

Pensou, mas desistiu desse pensamento também. Desistiu porque sabia que, além de estar mentindo para a loira, também estaria mentindo pra si mesma. Gizelly queria assitir filmes com a psicóloga, era uma ideia mais que atraente na verdade. Se imaginar envolvida pelos braços da loira, cheirando seu perfume adocicado e sentindo sua respiração calma sob si era tentador, então a contadora não podia dizer que não iria por falta de vontade.

A morena continua andando de um lado pro outro, num dilema entre aceitar o convite ou não. Se sua mãe estivesse ali, com certeza falaria que ela abriria um buraco no chão se continuasse zanzando daquela forma. Sua mãe... Sua mãe com certeza ficaria horrorizada ao saber que, ao invés de se curar, a paulista havia se apaixonado por sua psicóloga. Pior ainda se descobrisse que elas agora namoravam.

Eu estou namorando minha psicóloga da cura gay.

Pensa Gizelly, deixando um riso de nervoso escapar. A lembrança de que elas eram namoradas se tornou mais um peso no lado da balança que falava que ela deveria ir até a casa da loira, afinal, namoradas visitam a casa uma da outra. Não visitam?

Em outros tempos Gizelly pediria um conselho do que fazer pra sua melhor amiga, dona Márcia, mas essa era uma opção que estava totalmente fora de questão. Como perguntar a sua mãe homofóbica sobre como se portar num relacionamento com uma mulher?

Por um instante a morena para de se preocupar com o convite da loira e passa a refletir sobre como contaria sobre seu mais novo relacionamento para Márcia. Ela deveria contar, ou esconder era melhor? Sua mãe ainda acreditava que ela estava fazendo seu tratamento para curar-se da homossexualidade, e inclusive achava que a morena estava fazendo progresso devido a uma mentira que lhe havia sido contada. Ao ser transferida para o doutor Daniel, a morena teve de dar explicações para sua mãe do porquê da mudança de atendimento. Com medo de falar a verdade e sendo totalmente pega desprevenida, a contadora disse a dona Márcia que havia mudado de psicólogo porque estava progredindo no tratamento, e quanto mais progresso mais ela iria subindo de nível, e a cada novo nível um novo psicólogo assumia. Era uma mentira pra lá de cabeluda, mas foi a saída que a morena achou naquele momento. O que ela não esperava era que iria acabar se enrolando na própria língua.

Gizelly não podia falar sobre seu relacionamento para sua mãe, assim como não podia pedir ajuda para Marcela, afinal, ela era sua namorada, e era ela que aguardava seu veredito. A morena sentia-se perdida, totalmente desamparada e completamente despreparada para os problemas que estava tendo que encarar.

— Talvez eu tenha me precipitado ao aceitar o pedido de namoro. — A mulher diz para si mesma, parando de andar.

A morena pega o celular, destinada a dizer que não iria. Ao reler as mensagens, porém, Gizelly muda de ideia.

my favorite sinOnde histórias criam vida. Descubra agora