ma...rcela?

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Gizelly estava mais uma vez na sala de espera de um consultório de psicologia, porém aquela não era a clínica com a qual ela estava habituada. As paredes eram cobertas por tons de bege e verde escuro, ao contrário do habitual azul e cinza, e a decoração e disposição das mobílias também era muito diferente da clínica de Marcela. As cores do ambiente passavam uma calma diferente, eram menos aconchegantes, porém compensavam no sentimento de tranquilidade, de paz. Entretanto, a contadora sentiu falta de tons mais quentes espalhados pelo ambiente – mas aquele não era seu lado analítico falando. A morena estava com medo de como seriam as consultas com aquele homem, que ela nunca sequer havia visto na vida, medo de um possível julgamento, medo da mudança, e de muitas outras coisas que vinham com ela. Gizelly sabia que as cores não afastariam seu medo, mas pelo menos lhe dariam uma falsa sensação de segurança.

A contadora também temia não ser ouvida. Ela sabia que, tecnicamente, o homem a escutaria, porque afinal de contas aquele era o trabalho dele, mas escutar é diferente de ouvir. Daniel poderia muito bem apenas escuta-la e trata-la perfeitamente bem, mas era Marcela que a ouvia. Gizelly sentia-se vista e ouvida quando passava com a loira, e seu maior medo, sem dúvida, era voltar a ser invisível. Voltar a ser bege. Marcela foi a primeira pessoa que conseguiu ver que a contadora era como o vermelho, e foi por causa dela que a morena começou a se enxergar assim novamente. A contadora tinha medo de que, ao parar de ser ouvida, ela voltasse a se apagar. Talvez fosse por isso que ela decidiu visitar a loira na segunda feira, para reacender suas cores.

O som de uma porta se abrindo faz a morena prontamente se levantar, arrumando sua roupa e passando a mão em seu rabo de cavalo. Um homem loiro, branco e alto sai do corredor que tinha no lado direito do ambiente, exibindo um sorriso amigável. A contadora anda em sua direção, parando a alguns passos de distância dele.

— Você deve ser a senhorita Bicalho. — O homem fala estendendo-lhe a mão.

— Sou sim. — A morena fala alcançando a mão que lhe foi estendida e cumprimentando o loiro.

— Eu sou o doutor Lenhardt, mas pode me chamar de Daniel. — O homem fala sorrindo e a contadora sorri também. Um sorriso mais contido, mas ainda assim um sorriso.

— Meu consultório é no fim do corredor, vamos?

Gizelly acena que sim com a cabeça, e então Dani sai andando na frente, logo entrando na sala e segurando a porta para que a morena possa entrar. A contadora agradece o gesto do homem com um aceno de cabeça e se senta no pequeno sofá que havia ali. O consultório do homem tinha uma organização bem diferente do de Marcela. Ao invés de duas cadeiras e uma mesa entre elas, o ambiente continha uma poltrona, um sofá e algo que tinha a forma semelhante a de um divã. Haviam muito mais plantas que no consultório antigo também, além de mais iluminação natural. O espaço deixa a contadora um pouco mais tranquila, aliviando um pouco de sua tensão.

— Fique a vontade, se acomode onde achar mais confortável. — O loiro fala se dirigindo até a poltrona de couro que tinha ali. — Prefere começar se apresentando, ou quer que eu comece?

— Prefiro que você comece.

A contadora fala aquilo pois, baseado na apresentação do loiro, ela já teria um panorama de como a consulta prosseguiria. Também saberia se era melhor se apresentar de uma forma mais subjetiva ou objetiva. O medo, como vocês  já sabem, a deixava na defensiva. Estava na hora da morena avaliar o terreno e calcular o quão reforçadas suas defesas teriam de ser.

— Bom, já que é assim, vamos lá! — O loiro fala e passa a mão no cabelo. — Eu sou o Daniel, tenho 26 anos, e moro na capital desde os 14. 

— Morava onde? — A morena pergunta se intrometendo. A mulher já havia percebido o sotaque diferente do homem, só não saberia dizer de onde era. 

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