arrumou um sertanejo

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Gizelly acorda naquela manhã e a primeira coisa que seus sentidos conseguem processar é o delicioso aroma de café fresquinho que passeava por seu apartamento — sem dúvidas, um ótimo jeito de despertar o cérebro. Alguns raios de sol passavam pela cortina, aquecendo o quarto e trazendo uma sensação de bem estar. Não haviam passarinhos cantando, mas a contadora havia achado um jeito de encontrar beleza no som do tráfego maneirado que os fins de semana geralmente tinham. Poucos segundos do dia haviam se passado desde que ela acordara, mas a morena já era capaz de afirmar que não estava sendo tão ruim quanto ela esperava. 

Seu aniversário finalmente estava ali. A contadora não podia dizer que estava ansiosa ou animada, na realidade ela havia feito questão de deixar suas expectativas mais do que baixas para evitar eventuais decepções, mas não podia deixar de sentir um pouquinho de conforto. É isso que os aniversários fazem no final das contas: apesar de qualquer coisa que esteja rolando, aquele dia continua sendo seu. O que você fará com ele é sua escolha, mas nada tira ele de ti — e a morena gostava de ter algo que fosse dela.

Antes mesmo que a paulista pudesse pensar em sair do quarto, sua mãe entra com uma bandeja em mãos. O aroma forte do café fresco toma o cômodo de assalto.

— Bom dia filha! — Márcia fala animada, fechando a porta atrás de si com o pé. — Feliz aniversário!

— Mãe! Não precisava... — Gizelly diz com voz de sono.

— Claro que precisava! É o seu dia, meu amor!

A morena sorri, se ajeitando com as costas na cabeceira. A mulher coloca a bandeja no colo da filha, sentando-se na beira da cama em seguida.

— Obrigada, mãe.

A contadora analisa rapidamente o que tinha em sua bandeja, decidindo começar pelo suco. O cheiro de laranja era forte, não tão forte quanto o do café, mas era impossível não notar qual era o sabor da bebida a sua frente.

— Eu faria qualquer coisa por ti, filha. — Márcia diz sorrindo também. — Tudo que eu sempre quis foi por querer o melhor pra ti. — A contadora sente-se desconfortável ao ouvir aquelas palavras, mas prefere apenas deixar quieto e dar um longo gole em seu suco. — Se eu não apoiei sua vinda pra faculdade de primeira ou qualquer outra coisa foi por medo de... de te perder. — A mulher fala com dificuldade e a morena engole a bebida, colocando o copo de volta onde estava originalmente. — E eu queria te pedir desculpa por isso hoje.

A morena olha pra mãe surpresa. Se ela ainda estivesse com o suco na boca, com certeza teria se engasgado ou o cuspido. Digamos que Márcia não era uma mulher de pedir desculpas. 

— Desculpas? — A contadora pergunta, querendo confirmar que não havia ouvido coisa.

— É... Sei que o aniversário é seu, mas o seu perdão seria meu maior presente hoje.

— Mãe, eu não estou brav...

— Eu percebo como você fala comigo. — A mulher fala a interrompendo. — Eu percebi sua frustração, sei que ela é direcionada a mim, e eu odeio que você carregue esse sentimento ruim com você.

Gizelly nada fala, apenas volta a observar as comidas a sua frente.

— Então, me perdoa? Por tudo? — Márcia pergunta em expectativa.

A contadora relembra tudo ao que sua mãe havia lhe submetido durante toda sua vida. A falta de apoio, a vergonha, a terapia de conversão... Ela tinha ressentimentos, embora o amor — e a falta de vontade de dar explicações — muitas vezes os escondesse. Perdoar seria bom, tanto pra ela mesma quanto pra sua mãe, e mesmo que a mulher não tivesse lhe pedido perdão pela terapia em específico, isso se encaixava no "tudo", não?

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