p de panela

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Havia semanas que Marcela não se encontrava tão bem, tanto mentalmente quanto fisicamente. O retorno da contadora ao seu consultório, somado a sua decisão de continuar com a terapia, havia revigorado a psicóloga. Querendo ou não, as consultas anteriores eram pesadas, tinham uma energia negativa que sempre deixava a loira acabada no final das quartas feiras. A energia não era da mulher, mas sim porque Marcela sabia que ela não estava realmente afim de estar ali falando com ela. Eram encontros quase que forçados - e se perguntassem a médica por que a morena ia mesmo assim, ela não saberia responder. A desculpa do dinheiro não colava.

Naquela manhã a psicóloga havia deixado sua mesa milimetricamente arrumada, sem uma caneta fora de lugar ou post it movido. Agora que a contadora estava realmente disposta a compreender e ser cooperativa com ela, a loira não via mais o porquê de criar distrações. A partir daquele dia as conversas seriam focadas no objetivo principal. Obviamente assuntos como cores e filosofia poderiam vir a surgir, mas não mais como modos de fugir do propósito de tudo aquilo. A psicóloga usaria os tópicos de gosto das duas como ferramentas, mais agora do que nunca.

As primeiras consultas do dia para a loira haviam sido tranquilas, embora sua ansiedade estivesse a todo vapor. Ela não via a hora de ver a morena e de poder conversar com ela.

Após seu almoço, Marcela voltou correndo para a clínica pois sabia que a contadora seria sua primeira paciente após seu intervalo. A loira, inconscientemente, usou seu celular para olhar o próprio reflexo e arrumar alguns fios de cabelo que estavam fora do lugar, reamarrando seu coque e checando se havia algo preso entre seus dentes. Deu a desculpa pra si mesma de que tudo aquilo era porque ela tinha de parecer profissional, mas lá no fundo ela sabia que sua conversa não era nada mais do que conversa fiada. Ela queria estar bonita, pois sabia que a morena estava sempre impecável - bom, pelo menos era assim que ela via a contadora. Uma mulher linda e sempre muito bem arrumada.

Quando batidas na porta se fazem audíveis, Marcela faz questão de logo se levantar e ir abri-la. A loira abre a porta com um sorriso no rosto e encontra uma Gizelly olhando para o lado, segurando uma bolsa enquanto brincava com sua alça.

A desgraçada é bonita até distraída.

Após a constatação mental da psicóloga, a morena se vira pra ela e retribui o sorriso amigável.

Ok, ela é mais bonita ainda assim.

Marcela pensa mas logo abaixa a cabeça, querendo se afastar de tais pensamentos involuntários. Gizelly estranha o comportamento da loira mas prefere ignorar e fingir que não viu nada.

— Oi Marcela.

— Oi Gizelly! - A psicóloga responde erguendo a cabeça e abrindo um pequeno sorriso. — Entre, por favor.

A loira tira seu corpo da frente da porta e a contadora entra. Até mesmo a postura da morena estava mais relaxada. A psicóloga se senta em sua cadeira giratória e Gizelly assume seu posto na cadeira acolchoada em sua frente. A morena passa os olhos pela mesa, discretamente, fazendo Marcela reprimir um sorriso ao vê-la levantar a sobrancelha levemente após constatar que nada estava fora do lugar. A loira chega até a sentir um leve orgulho de ter arrumado tudo tão bem, já que ela sabia o quão detalhista a contadora era.

— Como você está? — Marcela pergunta arrumando a postura.

— Podemos dizer que bem. — Gi responde com um leve aceno de cabeça. — E você?

— Bem. — A psicóloga diz abrindo um pequeno sorriso e junta as duas mãos sobre a mesa. — Como foi a semana?

— Tranquila.

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