Após uma pausa para o almoço, lá estava Marcela novamente em seu consultório. Ela ainda tinha meia hora até o próximo paciente, então havia decidido dar uma organizada em sua sala. Não que o lugar fosse bagunçado, longe disso, mas já havia um bom tempo que ela queria dar uma mudada em sua organização. Começou remanejando alguns prontuários antigos, movendo-os de gaveta. Os dois armários metálicos ficavam encostados na parede posterior da sala, sendo que o da direita continha as fichas arquivadas e o da esquerda as fichas dos pacientes que ainda iam para as consultas. O da esquerda estava sempre em constante manutenção, mas já faziam uns bons meses que a loira não mexia no armário das fichas arquivadas.
A próxima tarefa executada pela psicóloga é um rearranjo de sua mesa. Ultimamente ela estava achando o móvel cheio demais, de modo que ela sempre acabava se sentindo sem espaço durante o atendimento, chegando a escrever com sua prancheta apoiada no colo. A mulher decidiu tirar os livros e os post-its dali, colocando os livros sobre o armário da direita e os papéis na segunda gaveta que ficava na própria mesa. Essa pequena mudança lhe proporcionou muito mais espaço, deixando Marcela satisfeita.
A loira se senta em sua cadeira e tira uma mecha loira da lateral de seu rosto. Assim que o faz, sua secretária avisa pelo telefone que a paciente havia chegado. Marcela suspira, se recompondo após o esforço pra arrumar a sala, e pede pra que a mulher deixe a mulher entrar.
A psicóloga então pega sua agenda na primeira gaveta da mesa e checa quem atenderia no momento. Era a mulher da cura gay. Um sorriso triste surge em seu rosto ao lembrar da situação em que a cabeça de Gizelly estava, porém ele é reprimido assim que ela ouve a maçaneta da porta ser girada. A loira ajeita seu jaleco e se arruma em sua cadeira, arrumando a postura e erguendo a cabeça para passar segurança. Sua clássica pose de psicóloga.
— Boa tarde, senhorita Bicalho.
— Boa tarde. — Gizelly diz com um sorriso simpático no rosto e senta-se na cadeira. A morena parecia estar menos arisca, o que era um bom sinal.
— Como você está?
— Poderia estar melhor, mas não há muito que eu possa fazer quanto a isso.
— Por que? — A loira pergunta e retira a folha do prontuário de Gizelly, logo a colocando em sua prancheta e dando os dois cliques na caneta.
— Se começar com esses "por ques" de novo eu saio por aquela porta agora mesmo. — A paulista fala começando a mostrar suas garras.
— Eu sou sua psicóloga, preciso saber o que passa em sua cabeça. — Marcela responde simpática.
Gizelly bufa, se ajeitando em seu assento. A contadora não tinha o costume de se abrir com ninguém que não fosse sua mãe, então aquela era uma situação desconfortável para ela. Assumir uma postura passivo agressiva era seu primeiro instinto.
— Você mudou as coisas.
— Perdão?
— Na mesa. — A morena diz e aponta para os espaços vazios. — Você removeu os post-its e alguma outra coisa que não me lembro o que era, mas ficava ali ao lado do notebook.
Marcela fica impressionada com a memória e a capacidade de observação da contadora.
— Eram livros.
— Sabia. — Fala a morena convencida.
— Você sempre foi observadora assim?
— Desde que posso me recordar.
— Conte me mais sobre isso. — A loira fala e dá dois cliques na caneta, preparando-se para escrever.
— Gosto de prestar atenção em detalhes, ajuda a fazer o tempo passar mais rápido. Algumas pessoas usam o celular pra tal finalidade, eu prefiro só observar o ambiente mesmo. — A contadora dá de ombros. — Pelo menos faço algo que pode vir a ser útil.
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my favorite sin
FanfictionHá muitas concepções do que se é certo e do que se é errado. Pra certas religiões, o pecado representa as ações que podemos vir a cometer e que não são corretas, não são decentes ou adequadas. Para Gizelly, seu maior pecado era gostar de mulheres. A...