difícil é não gostar

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Após o fim de seu expediente, a contadora deixa o escritório o mais rápido que pode e volta praticamente voando para o apartamento. Graças à sua ótima performance enquanto profissional, a morena havia conseguido convencer seu chefe à diminuir seu tempo de trabalho, pelo menos naquela semana. Um dos benefícios de se trabalhar meio período era não ter de lidar com o trânsito na volta para casa, então os trajetos para ela eram sempre rápidos. Em Borá isso não costumava ser um problema, já que ela costumava ir e voltar a pé de seu trabalho, benefícios de cidade pequena, mas em São Paulo, uma das cidades com mais carros no país inteiro, não pegar o horário de pico era praticamente uma benção. E já que Gizelly queria aproveitar o resto do dia com sua mãe, uma benção mais do que bem-vinda naquele dia. A morena estava doida para conversar com dona Márcia e finalmente matar a saudade da mulher que tanto amava.

Parte da animação ao voltar para casa também se dava da ansiedade da contadora de começar a plantar uma sementinha do bem na cabeça de sua mãe. Não que ela quisesse que sua mãe de repente virasse a maior defensora dos direitos das pessoas homoafetivas ou algo do tipo, mas Gizelly tinha a esperança de que Márcia pudesse pelo menos não achar sua atração por mulheres abominável. A morena tinha consciência de que era pouco provável, mas se ela mesma havia conseguido, por que não dar uma chance à sua mãe?

Ela foi o caminho inteiro pensando por onde começaria, e o caminho mais fácil era abordar com uma coisa que sua mãe amava: novelas.

A morena não chegaria falando sobre isso, mas tocaria no assunto em algum momento. Caso sua mãe reagisse de modo muito negativo, ela apenas abafaria o caso e voltaria a tentar algum tempo depois. O importante era não desistir. Marcela não havia desistido dela, mesmo após os xingamentos e brigas, então não seria ela que desistiria de dona Márcia. Se tinha uma coisa que a loira havia ensinado pra contadora era que pessoas merecem segundas chances, e que nenhuma delas está totalmente perdida.

Ao chegar em seu andar a morena sente um aroma delicioso de comida sendo preparada, e um sorriso enorme se abre em seu rosto assim que ela percebe que o cheiro vinha de seu apartamento. Gizelly não havia almoçado para conseguir sair mais cedo do trabalho, então estava morrendo de fome. Ter sua mãe cozinhando era, sem sombra de dúvidas, Deus lhe fazendo um agrado.

A morena toca a campainha e em questão de segundos sua mãe abre a porta. A mulher usava um avental e cantava a música que tocava na televisão, com o volume no talo. Márcia sentia-se em casa.

— Já vi que se adaptou.

— Conheci o amoooooor! — Fala a mulher ainda cantando a música. — Só de te olhar.

A contadora ri de sua mãe e entra em casa, retirando os saltos e soltando os cachos. Márcia pega a bolsa de sua mão e a coloca sobre a mesinha de canto.

— Obrigada, mãe. — Gi fala sentando-se no sofá.

— Como foi no trabalho, filha? — Dona Márcia pergunta retirando o avental e sentando-se no braço do sofá, ao lado da morena.

— Foi bom, nada de extraordinário, mas bom. E você, como ficou aqui?

— Bem. Consegui dormir por umas duas horinhas e depois assisti um pouco de série. Aliás, eu criei um perfil pra mim na sua Netflix, ok?

— Mi casa, su casa. — A contadora fala sorrindo. — Embora eu ache que você já entendeu isso.

— "Su casa" nada, isso aqui tava uma imundice Gizelly! — Márcia fala exagerada, fazendo a filha rir com seu jeito. — Os móveis cheios de pó.

— Eu limpei anteontem, mas aqui é terrível. Abro a janela por meia hora e fica tudo cheio de pó de novo.

— Lá em Borá é bom por isso, não tem a poluição dessa cidadezinha. — A mulher fala num misto de deboche e mesquinhez, fazendo a contadora revirar os olhos.

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