começando a ver coisa onde não tem

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Mais um dia amanheceu e lá estava a morena, sentada em frente ao consultório de psicologia que já não lhe parecia mais tão amedrontador. Já havia derramado algumas lágrimas dentro da pequena sala de atendimento, assim como a mulher que havia a assustado em seu primeiro dia ali, porém agora estava ciente de que não tinha nada para temer. Poderia até dizer que estava gostando de ir as consultas. Quem não gostaria de passar quarenta e cinco minutos conversando com uma pessoa legal, não é mesmo?

Marcela com certeza era uma pessoa legal. E bonita. E inteligente. E muitos outros adjetivos que a contadora se impede de listar. Ok, havia uma coisa que a morena temia dentro daquela pequena sala, porém era uma que ela não poderia controlar – por mais que tentasse ao máximo.

— Bom dia, Marcela! — A morena diz entrando no consultório e fechando a porta atrás de si.

— Bom dia, Gizelly! — A loira diz com um levantando o rosto e exibindo um sorriso.

A contadora passa os olhos pela sala e, ao contrário da consulta anterior, tudo estava em seu devido lugar. Os post-its no canto da mesa, as fichas guardadas no armário, a caneca de canetas sobre a pequena pilha de livros, a bolsa da psicóloga guardada e o jaleco cobrindo o corpo da loira. Aquilo era um bom sinal aos olhos da morena, afinal, demonstrava que a médica estava com a cabeça no lugar.

Os cabelos da psicóloga estavam presos no coque habitual, e por uns instante Gizelly se permitiu imaginar como a loira ficaria com um rabo de cavalo. "Bonita" foi a primeira palavra que veio em sua mente, porém isso não é novidade já que aquela mulher fica bonita de qualquer jeito.

Querendo se livrar dos pensamentos relacionados a penteados e cabelos loiros, a morena se senta na cadeira e observa Marcela escrever. A psicóloga tinha umas duas ou três folhas pautadas sobre a mesa, folhas em que ela anotava algo que a morena não era capaz de ler – em partes pelo ângulo e em partes por conta da letra. Provavelmente relacionado a um paciente, deduziu a contadora. A loira estava extremamente focada no que fazia e escrevia numa velocidade absurda. Estava com pressa, e isso ficava evidente.

— Me dá só um segundinho que eu tô terminando de escrever aqui e...

— Tranquilo, no seu tempo. — Gi diz simpática. — Já te disse que sou uma observadora por esporte.

— E o que você está observando, exatamente? — A loira pergunta sem tirar os olhos do papel.

— Você. — A psicóloga para de escrever por um instante, praticamente imperceptível, e que com certeza passaria batido aos olhos de qualquer outra pessoa que não fosse Gizelly.

— É? — A loira pergunta virando a página. — E o que você observou até agora? Digo, a meu respeito.

— Que você quer terminar logo o que está fazendo.

— Uma observação um tanto quanto superficial pra Gizelly Bicalho, não acha? — A loira pergunta em desafio. — Nem parece a mulher que me definiu em uma cor na segunda vez que nos vimos. Você consegue fazer melhor que isso.

— Ok, já que você insiste. — A morena diz estreitando os olhos e a loira sorri levemente. — Eu também observei que você está de jaleco hoje...

— Não me diga?

— Posso terminar? — A morena ergue a sobrancelha e a loira indica que sim com um leve aceno de cabeça. — O jaleco, o coque, a sala em ordem, tudo isso indica que o que quer que tenha te abalado semana passada passou.

Marcela nada comenta, apenas continua escrevendo até que o espaço na folha que usava acabe. Ela então junta todas as folhas que tinha sobre a mesa e as coloca na segunda gaveta de sua mesa, logo colocando a caneta que usava na caneca e se virando para a morena.

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