lide com isso

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A vida é curta.

Embora hajam pessoas que discordem dessa afirmação, estatisticamente falando a vida humana é extremamente breve. Se formos comparar o tempo de vida de um ser humano com o tempo de vida de uma sequoia gigante, por exemplo — que é uma espécie que vive cerca de três mil anos —, ele equivale a menos de 5% do tempo de vida desse tipo de árvore. Se formos pensar no tempo de existência do nosso planeta — que cientistas estipulam ser de 4,5 bilhões de anos — a porcentagem cai drasticamente. Se considerarmos o tempo de vida do nosso universo, talvez o número da porcentagem nem seja mensurável. Então sim, a vida é, de fato, muito curta.

A efemeridade da vida é talvez o que a torne tão especial. A ideia de experienciar esse mundo que conhecemos de forma limitada é o que nos motiva a seguir em frente e tentar viver o máximo de coisas possíveis enquanto passamos por ele. Por mais que tenhamos crenças, não sabemos com exata certeza o que ocorre após a morte — se retornamos ou se sequer vamos a algum lugar —, e por mais que seja aterrorizante pra alguns, essa é só mais uma parte do mistério. A única verdade a que podemos nos apegar é que, enquanto estamos aqui, devemos aproveitar. Cada segundo. Cada momento. Aproveitar até a última gota dessa viagem que nos foi oferecida ao nascer.

O problema é que, por mais que viver intensamente possa ser nossa maior vontade, temos dois empecilhos básicos:

1) nosso organismo foi programado pra nos fazer dormir por pelo menos 1/3 do nosso tempo aqui;

2) os finais de semana.

Não importa o quão animado, determinado ou amante da vida você seja, é impossível escapar de passar por pelo menos um final de semana de bobeira. Sabe aquele domingo em que você não faz nada além de assistir aquela série que você já viu dez vezes, ou aquela sexta de feriado prolongado em que você decide passar o dia fazendo fotossíntese? Então. E é por isso que afirmo com certeza: assim como o sono, o ócio esporádico está intrínseco no ser humano.

E Marcela, enquanto um ser humano assim como todos nós, se deparava naquela manhã com um típico sábado da preguiça.

Sua namorada ainda não havia dado sinal de vida, o que a fazia acreditar que sua sogrinha ainda estava na cidade, e todos seus amigos tinham arranjado algum compromisso em que ela não poderia acompanhá-los — ou não queria. A loira tinha zero planos para o dia, e, por mais que não fosse por querer, talvez tivesse sido por destino.

A psicóloga estava jogada no sofá da sala, vendo algum reality show bem porcaria que passava na MTV no momento. Ela não havia se dado o trabalho de ver o nome, porque sendo bem sincera ela só queria achar algo pra enganar sua mente e manter a ilusão de estar fazendo algo. A psicóloga sabia que o ócio era normal e que não deveria ser visto como algo ruim, mas se o capitalismo havia feito algo com seu cérebro isso era a fazer sentir culpa por estar sem fazer nada.

Enquanto passava os olhos pela tela que exibia pessoas super saradas e atraentes quase tendo um treco por não poderem transar umas com as outras, a loira ouve a campainha tocar. A mulher franze as sobrancelhas, confusa, já que normalmente a portaria lhe comunica que há alguém lá embaixo pelo interfone e só então ela permite a entrada de seja lá quem for.

A psicóloga se levanta e vai até a entrada de seu apartamento, abrindo um sorriso assim que espia pelo olho mágico. Ela destranca a porta o mais rápido que consegue e a abre, dando de cara com a contadora parada do lado de fora.

— Oi. — Diz Gizelly sorrindo. Ela usava um vestido soltinho, tinha os cabelos presos num coque arrumadinho e as mãos pra trás do corpo.

A loira joga os braços por cima de seus ombros, a abraçando o mais apertado que consegue.

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