cobrar o favor

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O alarme toca, fazendo seu som estridente ressoar por todo o quarto, e a loira é despertada de seu sono. Era uma sexta feira mas infelizmente, ao contrário do usual, isso não significava que ela poderia ver sua namorada naquele dia. Márcia ainda estava na cidade, e mesmo que fizessem poucos dias desde a chegada da mulher, parecia já fazer uma eternidade.

Marcela passava longe de estar envolvida numa dependência emocional para com a contadora, mas não poder trocar uma mísera mensagem era frustrante. Qualquer tipo de relacionamento, de amizades a casamentos, se baseiam na interação entre dois ou mais indivíduos. Conversar, tocar e se ver são coisas fundamentais para garantir que uma relação permaneça de pé. Nós somos seres humanos, intrinsicamente precisamos de contato. As duas mulheres, porém, estavam sendo privadas do mínimo. Os únicos minutos em que elas conversaram após a despedida foi naquela ligação que a loira fez ao escritório da morena, ligação que foi feita sem muito se pensar a respeito e que não voltou a repetir-se por se tratar de um inconveniente à pobre secretária da empresa de Gizelly.

A psicóloga havia até considerado pedir para que Daniel transferisse a consulta da contadora para ela naquela semana, mas era loucura demais. A verdade é que Marcela queria passar um tempo com a namorada, não importava o quanto e nem pra que, ela só queria entrar em contato com a morena. Infelizmente, isso não era possível.

Paciente após paciente, a loira se via afundando no trabalho para tentar esquecer a contadora. Bom, como já ficou evidente, não estava dando muito certo. 

Então, mesmo que receosa, ela pegou o telefone da clínica e discou o número do escritório. A psicóloga sabia que não podia ficar atrapalhando a morena em seu ambiente de trabalho, mas ela repetia para si mesma que era um ato inofensivo e que uma pequena ligação não mataria ninguém.

— Bom dia!  Machado Contabilidades, quem gostaria?

— Bom dia! — A loira fala animada, querendo compensar o incômodo com uma abordagem agradável. — Eu gostaria de falar com a senhorita Bicalho.

— A senhorita Bicalho está meio ocupada, eu poderia ajudá-la? — Uma voz feminina, transbordando simpática, soa através da linha. Marcela assumiu ser a secretária, e por mais que não quisesse atrapalhar a mulher, ela não tinha muita escolha.

— Infelizmente não. Poderia avisar pra ela me retornar quando possível?

— Só um momento. — A mulher fala e parece abafar a entrada do microfone com a mão.

— Ok? — A loira diz, ciente de que falava sozinha.

No outro lado da linha, Ivy tampa o microfone o colocando sobre sua blusa de lã, uma que ela sempre deixava no escritório para caso esfriasse — coisas de quem mora em São Paulo. A mineira levanta-se de sua mesa e segue até a mesa de Gizelly, pela segunda vez naquela semana.

— Srta. Bicalho? — A mulher fala simpática, chamando-a.

— Ah, oi! — A morena fala atrapalhada, retirando os óculos e juntando uns papéis que estavam espalhados sobre sua mesa.

— Desculpa atrapalhar, é que tem uma pessoa na linha querendo falar com você. — O rosto da contadora se ilumina ao mesmo tempo em que seu foco parece se direcionar totalmente para a fala da secretaria. — Acho que é a mesma pessoa da outra vez.

— Não atrapalha, de jeito maneira, vamos lá!

Gizelly se levanta, ansiosa, e segue Ivy de volta até sua mesa. A mineira estranha o comportamento da mulher atrás de si, mas não é como se elas fossem próximas o suficiente pra ela lhe perguntar quem era a mulher misteriosa que insistia em lhe ligar no trabalho.

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