elas se misturaram

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O Sol começava a se pôr na capital, deixando para trás apenas um rastro laranja em meio a imensidão azul marinho. Porém, nem mesmo a linda paleta de cores que cobria o céu de São Paulo naquele momento era capaz de distrair a loira do roxo que estava estampado em seu pescoço.

A psicóloga estava lutando contra a mancha, a cobrindo com base, pó, corretivo, e todo tipo de maquiagem que você possa imaginar, porém por ser tão branca nada parecia dar um jeito. Pelo menos não um rápido. Ela tinha de aplicar muita maquiagem, e aplicar muita maquiagem no pescoço significava aplicar muita maquiagem no rosto também, e Marcela não estava nada afim de usar uma maquiagem reboco. Com o tempo correndo tão rápido quanto o Sol a se pôr, a loira opta por uma blusa de gola alta. Cobriria a marca, e lhe daria menos trabalho. Estava quente naquele dia, porém ninguém nunca morreu por passar um pouco de calor.

Marcela e os amigos iriam no café, aquele em que ela havia levado Gizelly. Decidiram se encontrar pra passar um tempo juntos e descontrair, algo que eles não faziam há um bom tempo, considerando que a ida à balada havia sido um completo fracasso. Aparecer com um chupão a mostra era praticamente pedir pra ser esculachada.

A única coisa boa que aquele chupão havia proporcionado a loira, além da breve sensação de prazer ao ser dado, foi uma distração. A preocupação de cobrir a marca não deixava espaço nós pensamentos da psicóloga para pensar em como ela iria lidar com a situação em que seu relacionamento não profissional com a contadora estava. A maior vontade da loira era apenas empurrar os beijos para baixo do tapete, fingir que eles não eram nada demais e seguir sua vida, porém ela sabia que aquilo estava fora de cogitação - até porque ela sabia que queria mais. Esquecer não era uma opção.

Continuar com eles também não era uma, já que colocava sua vida profissional em risco. A menos que Gizelly deixasse de ser sua paciente, mas isso também estava fora de cogitação.

Ela não estava disposta a parar, porém não podia continuar, e isso deixava Marcela presa num paradoxo aparentemente sem solução. Por mais que a loira tivesse ciência de que era errado, ela gostava. Não do fato de ser errado, mas de Gizelly. Ela gostava dos beijos, da provocação, de suas conversas, da presença da morena, ela gostava de cada parte da relação que ela tinha com a mulher, até mesmo das ruins. Pensar em abrir mão de qualquer uma dessas coisas, mesmo que as consultas, lhe causava descontentamento. Infelizmente, alegria do profissional não anula as consequências de se quebrar o código de ética.

Após resolver o problema do hematoma, a loira corre até o ponto de encontro com os amigos. Chegando lá, para sua surpresa, todos já estavam presentes. Ela era capaz de ouvir suas vozes de longe. A loira cumprimenta os funcionários e então sobe o lance de escadas, encontrando os amigos sentados numa das mesas que ficavam encostadas na parede.

— Quem diria que Marcela McGowan ia ser a atrasilda da vez. — Enzo diz brincalhão ao ver a psicóloga se aproximar da mesa.

— Quando eu chego na hora, a doutora decide atrasar. — Luiza comenta rindo.

— Oi pra vocês também. — A loira fala se sentando.

— Não tá com calor não? — Enzo pergunta se referindo a gola alta.

— Não o suficiente pra me incomodar. — Marcela diz contornando. — E aí? Quais as novidades?

— Comigo tá tudo igual. — Bella fala dando de ombros.

— Comigo também. — Enzo fala dando um gole em sua bebida. A loira não poderia distinguir se era chá ou algo alcoólico, porém vindo de Enzo era capaz de ser os dois.

— Tô escrevendo umas músicas aí, porém nada fora do ordinário.

— A música da Marcela já saiu? — Enzo pergunta tirando sarro da psicóloga, que revira os olhos.

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