A amizade das duas mulheres nunca mais foi a mesma. Marcela dizia a si mesma que era por causa da briga, mas tanto ela quanto Gizelly sabiam que a briga havia sido uma consequência de algo anterior. A maldita noite de sábado na balada.
O problema é que o desejo das duas havia sido exposto, e não tinha mais retorno pra isso. Ambas tinham deixado explícito que se desejavam, porém o álcool havia invalidado parte do que foi dito e mostrado. Agora, as duas tinham a sementinha da dúvida plantada. Será que ela me quer mesmo? Será que há chance? Será que se não tivesse álcool o flerte teria ido tão longe? Será? Será? Será?
Elas andavam em pé de guerra. Brigavam por tudo que podiam, e pelo que não podiam também. Os fins de consulta haviam se tornado um inferno, e os almoços juntas foram cancelados. Estar no mesmo ambiente era praticamente impossível pras duas agora, de modo que as consultas eram os únicos momentos em que resquícios do começo da amizade delas pareciam aparecer, porém era só dar o fim do tempo que elas se transformavam em pura raiva e impulsividade, como animais sem controle. Marcela se sentia como uma falha enquanto psicóloga, porém não conseguia se conter.
Numa das discussões, porém, algo estranho ocorreu. Algo inesperado, porém expectado.
— Acabamos? — A morena pergunta já sem paciência.
— Sim. — A loira fala ainda em sua postura de psicóloga.
— Ótimo. — A contadora fala e se levanta de sua cadeira. — Tchau, Marcela.
— Tchau. — A loira fala sem muita cerimônia, catando alguns papéis em sua gaveta e os colocando sobre a mesa.
— Só "tchau"? — A morena pergunta parando de andar e se virando pra loira.
— Ué, você quer o que? — Marcela pergunta colocando os óculos. — Um prêmio?
— Não, só queria um mínimo de consideração da pessoa que um dia se disse minha amiga.
— Ainda sou sua amiga. — A loira diz começando a escrever nos papéis.
— Não age como tal. — A morena diz cruzando os braços.
— Você também não.
— Porra isso nunca vai acabar? — A contadora pergunta largando os braços.
Marcela suspira, exausta. A loira retira seus óculos, os colocando sobre a mesa e esfregando os olhos com ambas as mãos.
— Eu não sei.
— É tão difícil assim a gente ficar de boa? — A morena fala num misto de raiva e tristeza. — O que custa voltarmos a agir normalmente?
— Você sabe que não dá.
— Por que? — A contadora pergunta torcendo o maxilar.
— Você sabe o porquê.
— Por causa daquela maldita noite.
As duas suspiram juntas. A morena passa a mão no cabelo, logo indo se sentar novamente.
— A gente devia ter conversado sobre. — A loira diz.
— E do que adiantaria?
— Não sei, porém poderia evitar toda essa merda.
— Duvido muito.
— O que sugere então?
— Não sei, Marcela.
A loira apoia os braços sobre a mesa e esconde o rosto com as mãos, cansada.
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my favorite sin
Hayran KurguHá muitas concepções do que se é certo e do que se é errado. Pra certas religiões, o pecado representa as ações que podemos vir a cometer e que não são corretas, não são decentes ou adequadas. Para Gizelly, seu maior pecado era gostar de mulheres. A...