Os três dias antes da chegada de dona Márcia haviam passado voando. As duas mulheres fizeram questão de aproveitar cada minuto que podiam juntas em cada um deles, fazendo tudo que estava ao seu alcance para que isso fosse possível. Se encontravam no horário de almoço e após o expediente, conversavam, brincavam, assistiam filmes, ouviam música, faziam tudo que costumavam fazer e um pouco mais. Ficavam juntas até o anoitecer, e então se despediam e seguiam cada uma pra sua própria casa. Quando não estavam juntas, ainda assim trocavam mensagens.
As namoradas não haviam tocado no assunto, mas no fundo ambas sabiam que não poderiam trocar mensagens ou se ligar durante a estadia de Márcia em São Paulo. Era arriscado demais. Até mesmo o contato da loira havia sido alterado por Gizelly naquela semana. A contadora sabia o quão enxerida a mãe era quando queria, então todo cuidado seria pouco. Marcela não gostava da ideia de ter que esconder o relacionamento, mas não havia muito a ser feito a respeito. Era isso ou terminar, e a loira nem sequer cogitou a segunda opção.
Aquela era a última noite antes da chegada da mãe da morena, então as mulheres decidiram burlar a regra do cair do Sol e foram juntas até a casa da psicóloga pra aproveitar algumas horinhas a mais juntas. Estavam cansadas por conta do trabalho e até mesmo por conta dos últimos três dias que passaram querendo recuperar o tempo a ser perdido, mas não importava. Se passassem aqueles últimos momentos juntas apenas existindo, já valeria a pena.
Além do mais, não é como se encontrar-se pra fazer nada fosse uma novidade pra elas também. As duas geralmente colocavam um filme qualquer e deitavam-se juntas, curtindo apenas a companhia uma da outra e o silêncio confortável que se estabelecia. E assim fizeram naquele começo de noite.
Uma sitcom qualquer dos anos 50 passava na televisão enquanto as duas estavam deitadas grudadinhas, lutando contra o sono. Marcela estava deitada com as costas apoiadas no encosto do sofá e Gi estava deitada em seus braços, toda encolhida. A loira fazia um cafuné nos cabelos castanhos, como de costume, e se for pra ser franco nenhuma das duas realmente prestava atenção no que era exibido na tela à sua frente. Sendo mais franco ainda, elas só não dormiam ali mesmo porque não queriam gastar o resto de tempo que tinham juntas dormindo.
Querendo despistar o sono e reprimir a fome, o famoso unir o útil ao agradável, a psicóloga se levanta e vai até a cozinha preparar um lanche. A morena aproveita aqueles minutinhos pra tirar uma rápida soneca. Ela estava um caco.
Toda aquela história de sua mãe a visitar e as adaptações que ela teve de fazer em sua rotina haviam deixado a contadora exausta. No dia anterior, após se despedir de Marcela, a morena havia decidido faxinar o apartamento. Só terminou a limpeza tarde da noite. Teve de acordar cedo pra ir trabalhar e não dormiu desde então. Márcia nem havia chegado e já estava a dando dor de cabeça, no sentido literal já que a morena tinha cefaleia sempre que dormia mal.
Marcela, ao ver a namorada desmaiada no sofá, sorri fraco e pensa duas vezes antes de acorda-la. A contadora dormia tão tranquilamente que dava até dó de acabar com seu descanso, mas ela precisava comer. Então, a loira delicadamente acorda a paulista e a leva até a mesa pra fazer sua refeição. É só naquele momento que a psicóloga percebe o quão exaustivo aquilo estava sendo pra morena. Era ruim ter de esconder seu relacionamento, mas Gizelly estava tendo que esconder toda sua nova vida.
Após o lanche as mulheres voltam pro sofá e mudam de canal, colocando no jornal. A loira, decepcionada, percebe que sua ideia de cozinhar para passar o sono não havia funcionado. No final das contas só havia a deixado mais cansada. A rápida soneca de Gizelly, por outro lado, havia ajudado a morena a pelo menos por a cabeça no lugar. O sono pesado havia passado, e então sua mente ficou livre para pensar e processar tudo que estava prestes a acontecer.
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my favorite sin
FanfictionHá muitas concepções do que se é certo e do que se é errado. Pra certas religiões, o pecado representa as ações que podemos vir a cometer e que não são corretas, não são decentes ou adequadas. Para Gizelly, seu maior pecado era gostar de mulheres. A...