Capítulo 6

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Benjamin

Acordo com a minha mãe batendo na porta do meu quarto.

— O que foi? — grito mais alto do que precisava.

— Você tem aula. — ela fala, ignorando a minha raiva.

— Eu não vou hoje. — Coloco o travesseiro em cima da minha cabeça, tentando inutilmente abafar os sons das batidas.

— Vai sim, você não vai correr o risco de reprovar que nem ano passado.

— Mãe, eu já te disse que não tem como reprovar na faculdade! E eu também já  sou bem grandinho pra saber das minhas responsabilidades! — berro, ironicamente parecendo uma criança.

— Então se levanta e vai pra aula! Se você não descer em cinco minutos eu volto a te chamar. — ela fala e sai da porta. Reviro os olhos, mas me levanto da cama.

Quando desço para tomar café já estou atrasado, mas isso incomoda minha mãe dez vezes mais do que a mim. E meu pai acha graça na situação.

— Estou pronto! — Meu irmão Anthony fala segurando a sua mochila como se fosse algum tipo de troféu. Hoje é o primeiro dia de aula dele em uma escola e ele não dorme há uma semana sonhando com esse dia.

— Já vamos indo Anthony, só preciso ligar para uma pessoa. — Meu pai fala se levantando da mesa. Ele faz mais ligações do que eu fiz minha vida inteira, acho que ser o CEO de uma empresa exige isso.

— Mas papai eu vou me atrasar. — Anthony choraminga.

— Eu te levo, pirralho. — falo pegando um pedaço de pão e ele abre um sorriso enorme.

— Você sabe onde é a escola dele? — Minha mãe pergunta.

— É aquela de riquinhos, não é? — falo e vejo ela me repreender com o olhar, mas não discorda. Dou um beijo em seu rosto e vou para o carro com Anthony, que ainda não parou de sorrir. Lembro de Angel e da forma como ela sorri o tempo todo. Com Anthony é fofo, porque ele é uma criança e está animado com o seu primeiro dia de aula, com ela é irritante.

— Você não vai colocar o seu cinto? — ele pergunta depois de três minutos em silêncio. É o máximo que ele já ficou.

— Não. Você quem tem que colocar o cinto. — respondo.

— Eu já coloquei. — ele diz como se fosse óbvio. Vindo de Anthony é realmente óbvio. Ele e eu somos totalmente opostos, nem mesmo quando eu tinha a sua idade agia que nem ele. Ele fala coisas inteligentes e repreende qualquer um que fale palavrões. Eu acho isso pra lá de entranho vindo de um menino de cinco anos e continuo falando palavrões só para ver ele irritado. Ele usa gel no cabelo desde os quatros anos e eu nunca passei nada além de shampoo e condicionador no meu. A única coisa que temos em comum são as sardas no rosto, o cabelo ruivo, os olhos verdes e o gosto por leitura.

— Você também gostava de ir para a escola? — ele pergunta me olhando fixamente.

— Não.

— Por quê?

Por que crianças fazem tantas perguntas?
É óbvio que eu não vou falar para o meu irmãozinho que eu não gostava de ir para a escola porque eu era feito de saco de pancadas, apelidado de coisas que me lembro até hoje e que isso durou até os meus quinze anos. Esse é um peso que ele não precisa ter nos ombros.

— Porque eu sou preguiçoso e não gosto de estudar. — É uma meia verdade.

— Mas é sempre bom aprender. — ele fala com a voz séria, como se fosse uma advertência. Que tipo de criança de cinco anos faz isso?

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