Capítulo 32

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Angel

O ar frio do carro não diminuiu o calor que percorria pelo meu corpo. Benjamin está lindo; Benjamin me chamou de linda; Benjamin fechou o zíper do meu vestido. Meu cérebro ainda não processou tudo o que aconteceu em tão pouco tempo. Uma parte de mim definitivamente pensa que está sonhando e estou começando a dar ouvidos a ela. É uma sensação estranhamente aconchegante estar no banco da frente ao lado de Benjamin, o cheiro dele está por todo canto me fazendo imaginar coisas que eu não deveria. O silêncio no carro se tornou constrangedor há alguns minutos atrás e apesar de eu tentar o meu máximo para não olhar para Benjamin, eu falho. As mãos dele estão segurando o volante com uma força exagerada e todo o seu corpo parece tenso. Tento afastar os pensamentos que me dizem que não vai demorar muito até ele me expulsar do carro e dizer que foi uma péssima ideia ter aceitado me levar.

— Então... O que você comprou pra Ashley? — Benjamin pergunta em meio ao silêncio. Ele ainda parece apreeensivo, mas a sua voz está calma. É um alívio para mim, mais alguns minutos e eu sairia do carro sem nem precisar ser expulsa.

— Uma roupa sexy. — respondo sem muitos detalhes, não quero atiçar a curiosidade dele em ver Ashley nessa lingerie.

Benjamin percorre os olhos pelo meu corpo devagar o suficiente para fazer a minha pele arrepiar. Seguro a minha respiração para impedir que ele seja capaz de escutar os meus batimentos cardíacos. Confie em mim, eles seriam altos o suficiente para isso.
— Que nem o seu vestido? — Ele lambe os lábios e sorri para mim. Ele lambe os lábios! Impulsiono o meu corpo para frente quase sofrendo um ataque nervoso. Quando percebo o que fiz, me arrependo amargamente de ter escolhido não usar o cinto de segurança, talvez se eu tivesse feito isso essa cena não seria tão embaraçosa.
O carro começa a diminuir a velocidade e me preparo para finalmente ser expulsa. Estou a ponto de ter um mal súbito nesse banco, mas dúvido que isso vai fazer com que Benjamin tenha piedade de mim. Quando o carro por fim encosta perto de uma calçada, me viro para Benjamin. Para a minha surpresa e confusão, ele está aflito e o seu rosto carrega um semblante de culpa, quase como se ele tivesse cometido algum crime.
— Você está bem? O que aconteceu? — ele pergunta. As suas palavras saem afobadas. Benjamin está tão preocupado que chego a considerar a possibilidade de ele ter me empurrado contra o parabrisa, mas não, fui eu quem fiz isso. Eu fui a garota patética que praticamente se atirou para fora do carro só porque recebeu um elogio.

— Estou... É... Acho que você passou em uma lombada. — minto de uma forma desprezível. É óbvio que Benjamin não vai acreditar nisso, até porque não é a verdade, mas o que eu falaria? Ah sabe como é, eu vi você lambendo os beiços e não aguentei a carga elétrica que o meu corpo descarregou... Ha ha, que coisa, né?

Eu não acharia ruim se Benjamin me ofendesse agora, eu mesma já estou me ofendendo há pelo menos cinco minutos na minha cabeça, mas ele não parece que vai despejar xingamentos em cima de mim. Na verdade está sorrindo, não tanto quanto antes e nem a ponto de fazer com que eu me jogue contra o vidro de novo, mas está sorrindo.
— É, acho que sim. — ele diz. Devo admitir que a voz calma e a feição tranquila não eram o que eu estava esperando. Essa deve ser uma das muitas versões de Benjamin que eu ainda não conheci, me pergunto quanto tempo até a versão arrogante dele que me faz chorar estar de volta. Espero que muito tempo.
Demora alguns segundos até estarmos de volta no trânsito. A vergonha pelo que eu fiz diminui aos poucos e eu começo a sentir falta de ouvir a voz de Benjamin. A minha cabeça me diz que isso é extremamente preocupante, mas decido ignorá-la, assim como eu venho fazendo desde que o conheci.

— E o que você comprou para a Ashley? — pergunto, tentando retomar qualquer tipo de interação. Não tenho certeza se quero escutar a resposta dele, mas agora é tarde demais para isso.

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