Capítulo 29

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Angel

O meu despertador toca. Já são sete horas. Não seria exagero da minha parte dizer que não preguei o olho essa noite. Às onze horas, eu me deitei. Às duas da manhã, decidi que não conseguiria dormir se continuasse pensando em Benjamin. Às quatro, senti as borboletas no meu estômago voltarem com tudo. E às cinco, escutei Olivia chegar.

— Todos os dias quando eu acordo, penso se realmente vale a pena fazer faculdade. — Olivia resmunga da sua cama. — Porra, são sete horas da manhã e a gente já está acordada!

— E o que você sugere pra mudar isso, espertinha? — dou risada da sua expressão indignada. O fato de eu estar rindo parece irritar Olivia mais ainda.

— Vamos virar prostitutas. A gente trabalha a noite e trabalha dando, tem coisa melhor?

Começo a rir alto da sugestão de Olivia. Nós caminhamos juntas até o banheiro e ela afirma estar falando sério o caminho inteiro, enquanto eu dou risada. Não demora muito até estarmos atravessando o campus, prontas para mais um dia de aula. Bom, nem tanto.

— E então, você já pensou melhor sobre o Benjamin? — ela pergunta. Sinto um arrepio instantâneo ao escutar o nome dele. Torço para que Olivia não tenha notado.

— Pensar sobre o que exatamente?

— Você sabe... Ele gostar de você. Você gostar dele e no fim vocês dois transarem.

— Olivia por Deus, fala baixo!
Dessa vez é ela quem começa a rir alto, cplaramente tirando sarro da minha cara. Que pentelhinha!
— Não, eu não pensei sobre isso e nem vou. Você também não deveria. — respondo por fim, quando o som da sua risada já não está mais ecoando pelos corredores do campus.

— Ah qual é, Angel! Por que você não aproveita a chance que o universo está te dando? O Ben é um gostoso! — Eu concordaria com Olivia, mas estou mais preocupada em não xingá-la. Odeio esse sentimento. Odeio ter ciúmes do que não é meu. — Ele não faz o meu tipo, mas ainda assim eu devo admitir que ele é muito gato. E você também é muito gata. Dariam um casal tão perfeito quanto eu e o Eric. — Olivia realmente considera isso um elogio, então sorrio como se estivesse agradecendo.

— É preciso muito mais do que um rostinho bonito para construir uma relação. É preciso estabilidade, confiança, fidelidade e...

— Meu Deus! Eu não estou falando pra vocês dois casarem! — Olivia me interrompe rudemente. Não acho ruim, eu estava começando a me sentir uma hipócrita com a minha fala. Afinal, a quem eu estou querendo enganar? Se Benjamin me pedisse em namoro nesse exato momento eu aceitaria sem pensar duas vezes e muito menos sem pensar na estabilidade, confiança ou fidelidade. — Eu só estou dizendo que se ele te quer e você obviamente quer ele também, está na hora de unir o útero ao agradável. — ela continua com o mesmo tom enfático de antes.

— Não acho que o ditado seja esse, Olivia. — corrijo-a, mas ela não me olha  como se tivesse cometido um erro.

— É sim. Foi exatamente isso o que eu quis dizer. Está na hora de você unir o seu útero à coisa agradável que está no meio das pernas do Benjamin.

Cubro a boca com a minha mão tentando inutilmente abafar o som da minha risada. Olivia ao contrário de mim gargalha pelos corredores novamente sem se importar com os olhares das pessoas. Tenho que respirar fundo antes de entrar na sala de aula e na porta, ela me olha pela última vez e diz:
— Só pensa nisso, tá bom?
Eu concordo com a cabeça e digo que vou tentar. É mentira. Eu não vou me torturar tentando pensar sobre Benjamin e eu, mas para a sorte de Olivia esses pensamentos vêm até mim involuntariamente. Quando eu olho para a lousa, a noite mal dormida cai sobre os meus ombros e fecha as minhas pálpebras. Está tudo favorável para que eu adormeça e não é como se a minha professora fosse brigar comigo por isso, então por que tudo o que eu faço é pensar em tudo aquilo que estou tentando evitar? Eu sei, Benjamin me pediu desculpas e ele pareceu se importar. Eu sei, eu gosto dele — tanto que chega a me esgotar — e ele pareceu sentir o mesmo quando sorriu para mim ontem, mas e se tudo isso for apenas a imaginação de uma garota apaixonada falando mais alto do que a sua razão? Eu não estou no meu melhor juízo já fazem muitos dias, ou melhor dizendo desde o dia em que conheci Benjamin. Não posso confiar no meu julgamento, é óbvio que a minha mente, o meu coração e principalmente o meu corpo vão me dizer que Benjamin sente o mesmo por mim, mas o que ele vai me dizer se eu decidir questionar? Ontem Benjamin sorriu para mim e me pediu desculpas, mas isso foi ontem, hoje é um dia diferente e os vários dias perto de Benjamin não me ensinaram o que esperar dele.
As horas passam se arrastando, novamente eu estou alheia à todos e quaisquer assuntos explicados na aula. Não me culpe. Culpe Benjamin por se recusar a sair dos meus pensamentos e culpe Olivia por insistir com as suas ideias que dão esperanças ilusórias.
A última aula é literatura e não sei o que os meus sentimentos me dizem sobre ela. É confuso, então eu bebo água, respiro fundo e caminho até a sala. Sou a última pessoa a chegar, as únicas cadeiras livres são as da última fileira, bem longe da lousa. Não tenho outra opção, então me sento. Procuro por cabelos ruivos pela sala inteira, mas não os encontro. Ele não veio. Todos os meus sentimentos confusos sobre essa aula são esclarecidos: eu queria que ele estivesse aqui. Olho para a lousa, mas não escuto nada. Cinco minutos depois estou prestes a desligar a minha mente da mesma forma que fiz na praia, quando escuto a porta da sala abrir. É Benjamin. A sala toda está olhando para ele, as borboletas no meu estômago estão a todo vapor e Rufus está prestes a dar uma bronca nele.

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