Capítulo 56

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Benjamin

Já fazem 12 dias.

Não me lembro da última vez em que saí do meu quarto, ou que comi. Meu pai desistiu de tentar falar comigo há cinco dias, minha mãe há três. E quanto à Anthony, não o vejo desde muito tempo.

A realidade é que eu estava vivendo pela esperança de que nós dois ficaríamos juntos, e agora tenho que aprender a viver bem com a tristeza que o amanhã trará. Mas não sei como fazer isso, porque eu ainda me lembro de tudo.

Porque cada fôlego que respirei desde que ela se foi, parece um desperdício em mim. Porque ela era a minha melhor parte.


Eu esqueço que Angel não está aqui quando fecho os olhos. Por isso agora tomo remédios para dormir. Porque nos meus sonhos, não existe vítima e nem réu. Porque nos meus sonhos, eu não fui a causa do nosso fim.

E eu tenho orado, nunca fiz isso antes. Talvez seja egoísmo da minha parte pedir para que Deus, ou seja lá quem estiver nos observando, me ajude a passar por essa fase, mas eu ainda preciso ver Anthony crescer, então desistir não é uma opção. No entanto,  agora estou procurando por qualquer um que possa justificar as minhas atitudes. Ou alguém que possa mentir para mim. Quem sabe essa pessoa poderia me dizer que entende as coisas que fiz. Eu gostaria de ter amado Angel com a mesma intensidade que sinto sua falta.


Escuto passos no corredor e me enfio debaixo do travesseiro.


— Benjamin, posso entrar? — Minha mãe bate na porta.

Decido fingir que estou dormindo porque não vou aguentar mais uma sessão de "Por que você está assim?", "Fala comigo." e "Deixa eu te ajudar." Ugh!


— Benjamin, eu sei que você está acordado!


— Entra. — respiro fundo e falo. Era isso ou ela arrombava a porta.


Minha mãe se senta na beirada da cama e começa a fazer carinho nas minhas costas, assim como ela fazia quando eu era criança e estava mal porque tinha apanhado na escola, ou coisa do tipo. Carinhos podem até funcionar quando se trata de um olho roxo, mas quando o assunto é um coração partido, eles não são muito eficientes.


— Eu só achei que você gostaria de saber que o seu avô saiu do hospital hoje e já está em casa.


Pela primeira vez em 12 dias, o meu corpo reage. Tiro o travesseiro da minha cabeça e me sento na cama. Esse é o movimento mais rápido que fiz desde que... Bom, desde Angel.


— Ele já pode receber visitas? — pergunto.


— Sim, o seu pai está lá com ele agora e me ligou avisando que você poderia ir visitar também, só que mais tarde. — Olho no relógio e percebo que ainda são nove horas da manhã. Essa foi outra coisa que perdi nos últimos dias: a noção do tempo. — Por que você não toma um banho agora e saí desse quarto, hein? Vai te fazer bem. Nem lembro mais há quantos dias você está infurnado aqui.

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