Capítulo 42

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Angel

Não sei dizer o que foi mais vergonhoso: o fato de que Benjamin precisou me carregar para fora da roda-gigante ou o fato de que eu devorei três lanches como se não comesse há dias.

— Tem certeza de que você está bem? — Já é a sexta vez que Benjamin me faz essa pergunta. A partir da terceira vez  comecei apenas a afirmar com a minha cabeça, que nem fiz agora. — Eu não confio em você, olha pra mim. — Ele segura o meu rosto e me encara procurando resquícios de que estou mal. Me sinto como uma boneca de porcelana e isso não é uma coisa boa. Será que eu deveria dizer para ele que olhar nos meus olhos e se aproximar dessa maneira, não é a melhor forma de evitar um desmaio? Já posso sentir as minhas pernas bambas.

— Eu já disse que estou bem. Você está exagerando. — Me afasto dele, apesar de todos os instintos que diziam para eu chegar mais perto.

— Fala isso porque não foi você quem quase teve um ataque cardíaco quando encarou o seu rosto pálido.

Reviro os olhos e começo a andar. A palavra exagerado não é o suficiente para descrever Benjamin. Checo os bolsos da minha roupa para ver se tenho algum dinheiro e por sorte encontro uma nota de vinte. Benjamin já está pagando pelos ingressos do parque e eu me recuso a deixar a conta dos lanches para ele também, principalmente considerando que eu comi que nem uma esfomeada, enquanto ele só bebia um suco e me observava. Eu só percebi o quanto era difícil engolir comida perto dele no terceiro lanche, porque nos dois primeiros eu estava com muita fome para notar qualquer coisa.
— Toma. — Entrego o dinheiro para ele, que como eu esperava revira os olhos e ignora a minha mão estendida. — Eu não quero te extorquir. — insisto.

— Só é considerado extorsão quando é usado ameaça ou agressão.

— Bom, se você não aceitar esse dinheiro eu vou ter que te agredir. — ameaço, ainda sem decidir se eu vou realmente bater nele ou não. Vontade não me falta...

— Eu vou adorar isso. — Ele se vira para mim com o sorriso mais sexy e perigoso que eu já vi. O seu sorriso é uma ameaça dez vezes maior que a minha.

Levo no mínimo um minuto para voltar a raciocinar de novo, mas não tenho certeza disso. Por Deus, por que os meus sentidos mais básicos se tornam quase impossíveis quando estou perto dele?
— Você é péssimo. — digo quando consigo voltar a falar.

— Eu sei. — ele sorri, mas dessa vez o seu sorriso é só para me provocar, ao contrário do outro que serviu para interromper a circulação de sangue nas minhas pernas. Reviro os olhos mais uma vez e tenho que aturar Benjamin se divertindo com a minha irritação. Eu até ficaria brava, mas eu amo o som da sua risada demais para conseguir fazer isso.
— Alguma chance de você querer ir embora? — ele pergunta, com uma certa esperança de que eu responda sim nos olhos.

Decido que essa é a hora de eu me vingar.
— Ah, mas não mesmo! — Faço uma das vozes mais irritantes que consigo para falar — Afinal, você já pagou. Eu nunca faria tamanha desfeita. — ironizo. Benjamin não vai me dizer, mas eu sei que ele quer desesperadamente ir embora desse parque. Bem, é uma pena, porque nós vamos ficar.

— Há há, muito engraçado mocinha. — Benjamin soa como um pai. Seria fofo se não fosse pelo fato de que eu quero beijá-lo e jamais quero ter que pensar nele como uma figura paterna. — Então onde nós vamos agora? — ele pergunta, mas antes que eu possa responder continua — E nem pense em falar roda-gigante porque você acabou de comer e eu não tô afim de precisar te levar para um hospital.

Reviro os olhos e murmuro que ele é exagerado, mas ele não escuta ou então ignora, e conhecendo Benjamin provavelmente foi a segunda opção.
Olho ao redor do parque procurando por brinquedos que não exijam esforço físico, e alguns segundos depois me deparo com uma área cheia de bichinhos de pelúcia. Não penso, apenas corro até ela. Quando chego, percebo que esqueci de Benjamin. Olho para trás procurando por ele e o vejo se aproximando com um sorriso fofo no rosto. Penso em perguntar qual o motivo para ele estar sorrindo, mas então me dou conta de que corri feito uma criança pelo meio do parque. Espero que as minhas bochechas já não estejam mais vermelhas quando ele finalmente chegar aqui.

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