Capítulo 65

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Angel

Depois de um final de semana tão dramático quanto esse, a segunda-feira, também conhecida como o pior dia da semana, parece tão relaxante quanto uma massagem nas costas. As aulas, o campus lotado e até mesmo o calor de matar, nada me incomoda. Estou feliz, enquanto espero Benjamin chegar com o carro para me pegar, aparentemente, nós somos os encarregados de buscar Anthony hoje na escola. Eu pareceria louca se dissesse que coisas desse tipo me fazem imaginar como seria se eu e Ben tivéssemos uma família? Talvez não, mas por agora prefiro pensar que sim.

- Tá pronta? - Benjamin para o carro ao lado da árvore em que estou encostada.
- Sim- respondo.
O carro todo tem o cheiro dele, e eu tento não parecer tão óbvia quando absorvo o ar profundamente.
- Eu vi isso, senhorita. - O convencido tira sarro da minha cara.
Cala a boca. - Dou um tapinha de leve na sua cabeça.
Ele sorri.
O Eric vai dar uma festa na casa dele essa semana, estava pensando que a gente podia ir- Benjamin comenta casualmente, mas cheio de intenções na voz.
Ummmmm - Penso por alguns segundos. - Não sei se estou no clima pra mais uma festa e eu provavelmente vou estar trabalhando, então vou deixar passar dessa vez.
Tá bom, depois aviso pra ele que não vamos.
- Eu não vou - Coloco ênfase ao falar porque sei que Benjamin é cabeça dura. - Você pode ir e se divertir.
Ele me encara dando risada como se eu estivesse contando alguma piada. Se não fosse a minha promessa feita para Philips, não me importaria de matá-lo agora mesmo.
- Anjo, por favor- ele continua rindo. - Eu e você somos praticamente um só, não existe Benjamin sem Angel. Não faz sentido nenhum eu ir sem você.
- Como você é dramático- Reviro os olhos, fingindo que cada parte de mim não está gritando como uma garotinha depois dessa declaração.
Ele aperta a minha coxa e sorri de um jeito carinhoso.
Quando chegamos na escola de Anthony, percebo que os pais de Benjamin têm muito mais dinheiro do que ele já me falou algum dia. Minha nossa, isso é praticamente um castelo!

- Cadê esse pestinha? Ele já deveria estar aqui- Benjamin olha de um lado para o outro dentro do carro, enquanto milhares de crianças deixam o paláci... a escola.
Às vezes, ele não saiu da sala ainda. Por que a gente não dá uma volta no quarteirão? - sugiro.
Benjamin não responde, mas liga o carro e sai pelo lado direito da escola.

Tenho a impressão de que vamos demorar pelo menos trinta minutos até atravessar esse quarteirão inteiro, e as minhas dúvidas são confirmadas no momento em que o engarrafamento começa. Que ótimo...
Assim como eu esperava, Benjamin não fica nada feliz em ter que atravessar faróis e lidar com carros e motos. Ele é realmente rabugento como um velho.

- Quem foi o retardado que te deu uma carteira de motorista? - Benjamin grita com o homem que está no carro ao lado, e dessa vez eu nem sei o porquê.
- Ei, se acalma. - Acaricio seu cabelo com uma mão e tranco as portas do carro com a outra. O homem não pareceu muito contente com o comentário de Benjamin e não quero arriscar ter que ver uma briga.
- Eu vou matar o Anthony! - ele afirma ao mesmo tempo em que buzina para os carros da frente. Oh céus!

Quando a raiva de Benjamin chega a um ponto onde eu não acho mais que conseguiremos sair vivos desse trânsito, o sinal abre e todos os carros, caminhonetes, motos e sejá lá mais o que, conseguem passar. Olho para o céu agradecendo porque tenho certeza de que isso foi algum tipo de ajuda divina. Minha nossa! Não se passaram trinta minutos como eu imaginei, mas com Benjamin dentro do carro, alguns minutos se tornaram algumas horas.

- Você é maluco! - esbravejo inconformada. Agora sei que posso fazer isso e ele não vai descontar nos motoristas.
- O que foi? - Benjamin pergunta como se não tivesse a mínima ideia do que estou falando, como se não tivesse feito a proeza de irritar um engarrafamento inteiro há cinco minutos.
- O que foi? - repito a sua fala, ainda decidindo se me jogo desse carro ou se jogo ele. - Acha mesmo que toda aquela gritaria foi necessária? E a buzinação também, Benjamin? - Já tomei a minha decisão, e, dependendo do que ele responder, juro que o empurro para fora desse carro.
- A culpa não é minha se as pessoas dirigem como um bando de jumentos, se você dirigisse iria me entender.
E é aí, que a calma de Benjamin se torna o motivo de o meu sangue estar fervendo.
- Se eu dirigisse não ia sair por aí que nem uma louca gritando com as outras pessoas! - Ironicamente, digo isso aos berros.
Quando Benjamin tenta abrir a boca para falar alguma coisa, viro a cabeça para a janela e ignoro. Não vou ficar assim o dia inteiro, mas tenho o direito de estar irritada por pelo menos cinco minutos. Continuo encarando a paisagem até finalmente chegarmos à escola, e, de repente, é como se os meus olhos estivessem olhando para um pesadelo. Na verdade, preferia do fundo do meu coração que isso fosse, de fato, um pesadelo. Talvez o destino esteja tentando sabotar qualquer resquício de paz e harmonia que encontra, ou, quem sabe, Benjamin não devesse ter compartilhado todas as suas dores comigo há tão pouco tempo, e esse é o nosso sinal de confirmação. Apesar de todos os esforços da minha cabeça para me fazer acreditar que isso não é real, a cena de Anthony com os seus óculos caídos no chão, sangue manchando o seu uniforme branco e o garoto de cabelos negros desferindo um soco atrás do outro, é bem clara. Não sei se grito, corro ou choro. Sinto o meu corpo entrando em colapso, quando me lembro do ruivo no carro comigo que não poderia ver essa cena em hipótese alguma. Benjamin! Olho para o lado com a única certeza de que não vou gostar da imagem que estou prestes a ver, mas me dou conta de que Benjamin já não está mais nesse carro. Embora as minhas mãos estejam tremendo e a minha visão esteja turva pelo desespero, consigo enxergar claramente a fúria com que ele atravessa a rua, pronto para cometer um crime se precisar. Por Deus, eu preciso impedi-lo!
Forço as minhas pernas a se moverem e tento a sorte ao pisar no chão, esperando que o resto do meu corpo as acompanhe. De repente, Benjamin não está mais andando, e sim, correndo. Então sei que é isso que preciso fazer também, mas não conseguiria alcançá-lo nem mesmo se não estivesse sentindo como se eu pudesse ter uma parada cardíaca a qualquer minuto, logo não tenho dúvidas de que vou falhar miseravelmente. Os meus dedos do pé estão dormentes quando disparo como se céus e terras estivessem caindo atrás de mim. Qualquer pessoa que conhece Benjamin sabe exatamente o que vai acontecer aqui e agora: ele vai destruir o garoto que ainda segura Anthony nos braços sem intenção nenhuma de o soltar tão cedo. Eu sempre fui contra qualquer tipo de agressão, mas nesse caso eu não me importaria de ficar ao lado de Benjamin, na verdade, apoiaria ele e o defenderia para qualquer um que decidisse abrir a boca. Só tem um problema, um único probleminha que me impede de fazer isso: O garoto é uma criança assim como Anthony, e o miserável não tem sequer noção do que está prestes a acontecer com ele em 5, 4, 3, 2, 1...

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