O MEU SONHO MAIS SELVAGEM

Capítulo 57

Angel

Já fazem 13 dias.

Hoje o dia estava péssimo, mas descobri que isso é um padrão quando se tem um coração partido. A vida tem sido tediosa, e às vezes insuportável desde que Benjamim e eu terminamos. Nunca mais o vi. Nem nas aulas, nem no campus, em lugar nenhum. De acordo com Olivia, ele não tem saído de casa e nem atendido ao telefone. Não sei dizer se isso é uma coisa boa ou ruim. Uma parte de mim agoniza com a vontade de ver Benjamin de novo, nem que fosse para desabar uma última vez. Mas a minha parte racional entende que é melhor nunca mais ter que lidar com aqueles olhos.

Olivia tem passado mais dias no dormitório desde que descobriu que terminamos. Apesar de ela só estar com pena de mim, é bom ter alguém para conversar. Ela me distrai de todos os pensamentos ao redor de Benjamin e consequentemente de chorar. Porque sim, eu ainda choro. Choro porque eu o amo como nunca amei ninguém antes, e choro porque ele não sente o mesmo. Choro porque foi tudo uma mentira, e porque não podemos ficar juntos. Choro porque dói.

Todos os dias acontecem as mesmas coisas. Eu acordo, vou para a aula e tento me concentrar quase sempre em vão. Depois do almoço, vou para a biblioteca trabalhar. Essas são as melhores cinco horas do meu dia, porque eu normalmente nunca penso em Benjamin. Seja conversando com alguém ou lendo um livro, eu sempre estou com a cabeça ocupada. O problema é quando tenho que voltar para casa. No primeiro dia de serviço tentei voltar a pé, mas quando comecei a chorar na metade do caminho ao som da trilha sonora de Crepúsculo, percebi que seria uma péssima ideia voltar para casa assim todos os dias. Então agora eu pego ônibus, mas entre uma música e outra, uma lágrima sempre acaba caindo.

Sabe, eu acho que o universo é um grande cretino. Ele claramente tem algo contra mim. Eu passei a minha vida inteira sendo uma boa garota e o que ganhei com isso? A merda de um pai que não se importa o suficiente para me defender. A merda de uma mãe ausente, e agora a merda de um coração partido. É isso, as boas garotas estão em casa com o coração partido.

Desço do ônibus limpando as lágrimas que caíram hoje. O campus parece infinitamente grande depois de um dia cansativo. Quando entro no meu quarto, recebo uma mensagem de Olivia avisando que ela não vai voltar para casa hoje. Por que eu não estou surpresa?

Tomo um banho longo e quente para lavar toda a camada de exaustão do meu corpo. A vida já foi mais difícil, mas com certeza já foi mais fácil.

...

Acordo assustada com batidas na minha porta. Pela força com que estão batendo não duvido que o dormitório esteja pegando fogo. Me levanto atordoada.  Afinal, que horas são? Seja lá quem estiver nessa porta, não pretende deixar eu descobrir. Tropeço algumas vezes antes de conseguir chegar à maçaneta.

Quando finalmente abro, as batidas param e as do meu coração também. Estico a minha mão para ter certeza de que não estou sendo enganada pelos meus olhos, ou pelo sono, porém me interrompo. Já passei por essa situação mais de uma vez para saber que não estou louca. É Benjamin, e sim, ele está aqui. Acorda Angel! Eu deveria exigir que ele vá embora, ou então gritar que o odeio, qualquer coisa. Mas só fico em silêncio, talvez porque não aguentava mais ficar longe dele, ou talvez porque sou uma idiota. Independente de quais sejam os motivos, estou imóvel.