Capítulo 63

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Angel

Benjamin disse que não queria nenhum parabéns, mas todos nós ignoramos isso. O bolo de chocolate que Philips escolheu para ele é, provavelmente, o melhor bolo que eu já comi na vida.  Apesar de Benjamin não ter falado nada, o fato de ter comido cinco pedaços mostra que ele concorda comigo. E uma hora depois, não existiam mais resquícios do bolo.


— Bom, não quero expulsar ninguém, mas eu sou velho e já passou do meu horário de dormir. — Philips fala enquanto enrola o seu bigode de um jeito engraçado.


— Tudo bem, vô. Já passou da hora desse carinha estar na cama também. — Benjamin se refere a Anthony, que pela cara não gostou muito da ideia.


— Obrigada mais uma vez por tudo, queridos. — Philps se levanta da mesa e abraça cada um de nós. Eu poderia passar horas apenas curtindo o seu abraço de urso. — Angel, você me acompanha até o meu andar? — ele pergunta assim que me solta. Concordo com a cabeça quase automaticamente.


— Vou ficar aqui esperando você então. — Benjamin avisa.


— Posso ir brincar de novo? — Anthony pergunta, aproveitando a brecha.


— Não.


— Mas é só um pouquinho... Por favor!


Eu e Philips saímos andando antes de Anthony e Benjamin terminarem a discussão.


— Quem você acha que ganha essa batalha? — ele pergunta e olhamos para trás ao mesmo tempo.


— Coloco todas as minhas apostas no Anthony.


— Idem. — Damos risadas juntos.

No caminho, relembramos momentos da noite até entrarmos no elevador.


— Eu moro no último andar, querida. Geralmente demora alguns minutos pra chegar lá. — Philps fala e aperta o botão para a cobertura. Uma música relaxante a ponto de me deixar com sono toca no elevador enquanto ele sobe. — Espero que a gente consiga se encontrar mais vezes.


— Eu também. — sorrio. — Temos que admitir que esse encontro demorou pra acontecer. — Era para termos nos conhecido há muito tempo, mas os meus pais conseguiram arruinar isso também.


— O importante é que aconteceu e foi maravilhoso.


E mais uma vez, quero abraçar Philips.


O elevador chega no último andar e ele sai na minha frente, me guiando até a porta. Não preciso entrar dentro da sua casa para saber que é incrivelmente linda e grande. Já perdi as contas de quantas vezes me perguntei qual deve ser a sensação de ser rica.


— Bem, aqui estamos. Vou deixar você descansar agora. Muito obrigada pela noite incrível, Philips. — digo com um sorriso de orelha à orelha e dou às costas para ir embora.


— Angel, querida. — Ele chama. — Preciso falar uma coisa para você.


Volto ao lado de Philips. São apenas três passos até chegar a ele, mas o olhar no seu rosto me deixa apreensiva o caminho inteiro.


— Pode falar. — Mantenho a voz firme, apesar de por dentro estar chorando como uma garotinha.


— Eu imagino que você já saiba sobre o meu câncer. — Philips não faz rodeios com as palavras, elas vem diretas e duras, como se eu, de fato, pudesse senti-las. Concordo com a cabeça. — Bom, Benjamin não sabe disso ainda, porque eu pedi para não contarem a ele, mas os meus sintomas estão ficando cada vez mais fortes, e o meu cabelo já está começando a cair. — Sinto como se um peso tivesse acabado de ser colocado na minhas costas. Não posso fazer isso.


— Philips, eu sinto muito mesmo. Eu juro que queria te ajudar, mas não acho que consigo contar isso para Benjamin. — As palavras começam a sair perdidas e frustradas. Tudo o que consigo enxergar são as minhas mãos tremendo. — Ele ama você demais e eu não posso...


— Calma, querida. — Philips segura as minhas mãos, e, é a única maneira que elas encontram de ficarem imóveis. — Eu não vou pedir que você conte isso para ele. — O ar encontra os meus pulmões de novo. Ufa! — O que eu quero dizer é que não vou estar aqui por muito mais tempo. E eu sei que isso não vai ser fácil para Benjamin. Para nenhum deles, mas principalmente para o Ben. Nós sempre tivemos uma conexão muito forte e eu sei o quanto isso vai machucar ele. — Philips diz de uma forma tão cautelosa que eu poderia chorar, na verdade, acho que já estou. — Pode ser que eu esteja sendo irresponsável ou até mesmo egoísta em fazer um pedido tão grande assim para uma menina que mal começou a vida ainda. — Faço que não com a cabeça repetidas vezes. Não sei o que está por vir, mas eu faria qualquer coisa por ele nesse momento. — Porém, eu vejo o quanto você e o Benjamin se amam. Eu vejo todos os olhares e as trocas de carinhos. E eu sei que o que vocês dois tem é raro, porque eu já tive isso também. — Consigo sentir o gosto salgado das minhas lágrimas, e enfim, tenho a certeza de que estou chorando. — Eu quero te pedir uma única coisa: cuide do meu neto. — Philips beija as costas das minhas mãos de uma forma paternal, como se estivesse aguardando um juramento. — Apesar de todas as pessoas, você é o porto seguro dele, e eu não preciso de muito para saber que ele também é o seu. Não estou dizendo que vai ser fácil, porque minha nossa, eu sei bem como ele pode ser difícil. — Nós dois sorrimos em meio ao choro. — Mas estou dizendo que vale a pena tentar.


Não sei onde estou me enfiando e muito menos com o que vou lidar. Nunca me dei ao luxo de imaginar um "para sempre" com Benjamin, porque sei que para sempre é muito tempo, e o nosso tempo é inconsistente. Às vezes, não respondo "eu te amo" de volta por achar que ele está mentindo. Em algumas manhãs, acordo com medo de encontrar o Benjamin que me faz chorar em vez daquele que me faz sorrir. E sim, Benjamin pode ser venenoso e ainda assim cheirar como rosas, mas toda vez que ele sorri a vida fica mais fácil. Então talvez valha a pena. Mas se quero ousar desejar um "para sempre", preciso me livrar de tudo aquilo que nos prende. Preciso conhecer Benjamin.


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