Capítulo 38

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Angel

Até mesmo abrir os olhos parece errado agora. Não sei qual vai ser a pior parte do meu dia: levantar da cama ou encarar o meu reflexo no espelho. Pego o meu celular e procuro por novas mensagens, mas não encontro nada. Deduzo que Olivia está desmaiada em algum lugar, junto de Eric e os dois provavelmente estão de ressaca. Se eu der sorte, todos vão ter esquecido sobre ontem e eu não vou precisar falar sobre a noite mais dolorosa da minha vida. Fico mais alguns minutos deitada na cama, me contorcendo a cada memória da madrugada com Benjamin e me perguntando se eu tenho algum outro propósito nessa Terra a não ser sofrer. Quando o relógio marca uma hora da tarde, eu decido — depois de muita negação — que é hora de me levantar da cama. Eu finalmente me olho no espelho, mas chego a conclusão de que nunca mais vou fazer isso na minha vida. Os meus olhos ainda estão inchados pelo sono, mas principalmente pelo choro. As minhas bochechas parecem bochechas de bebês e a humilhação está estampada na minha cara da forma mais óbvia possível. É como se pudessem ler na minha testa a frase "você foi rejeitada" em letras grandes e com muitos pontos de exclamação. Pego a minha toalha e vou até o banheiro para lavar toda a vergonha do meu corpo, sem muitas esperanças de que isso dê certo. A cada parte do meu corpo que eu tento esfregar, é como se eu pudesse sentir as mãos dele de novo. Meu pescoço, meus ombros, minha cintura... Tudo! Absolutamente tudo em mim tem a memória de Benjamin. Começo a me preocupar com a ideia dessas memórias serem permanentes. Decido então lavar o meu cabelo, numa tentiva desesperada de ficar com uma aparência melhor e me focar em qualquer outra coisa que não seja Benjamin. Mas de novo, lá está ele,  cheirando o meu cabelo e depois adentrando os seus dedos nele. É impossível tomar esse banho sem sentir a presença dele aqui. Então enfim, eu termino o meu banho, depois de uma luta incessante e em vão para tentar esquecer o inesquecível: a noite de ontem. Quando começo a me secar, percebo que mais uma vez eu esqueci as minhas malditas roupas no quarto. É óbvio que o universo está me dando sinais claros de que me odeia, eu seria tola de não percebê-los. Me enrolo na toalha e vou até o meu quarto em passos rápidos. Quando abro a porta quase sofro de um colapso nervoso. Benjamin está deitado na minha cama, lendo um gibi e absolutamente lindo. Ele com certeza não chorou a noite inteira ou ficou se fazendo perguntas dolorosas, afinal ele não teria motivos para isso. Ele olha para mim e por um breve momento percebo seus olhos se arregalando. Me lembro então que estou de toalha e olho para baixo me certificando de que ela não caiu. É um alívio saber que esse não vai ser mais um dos inúmeros motivos para eu me envergonhar.

— Eae. — É a única coisa que ele fala. Começo a me perguntar se estou ficando louca... eu não duvidaria. Eu mesma já questionei a minha sanidade mental muitas vezes nos últimos meses, talvez agora eu tenha chegado na fase de ver coisas e criar cenários que não existem. — Você está bem? — A possível invenção da minha cabeça se senta na cama e me encara como se eu fosse uma pertubada. Finalmente tenho a confirmação de que isso não é um fruto da minha imaginação. Benjamin está realmente aqui e está perguntando se eu estou bem. Existe um resposta mais óbvia para essa pergunta?

— O que você está fazendo aqui? — Minha fala sai como um grito histérico. Bem, é assim que eu estou me sentindo por dentro.

— Eu vim te buscar. — As explicações limitadas de Benjamin estão me fazendo gritar ainda mais por dentro. Ele veio me buscar para quê? Para me levar em um manicômio? Se a resposta for sim, eu com certeza vou.

— Será que você poderia fazer mais sentido?

Ele suspira, olha rapidamente para o meu corpo e diz:
— Ontem a noite eu disse que qualquer dia desses, te levaria para ver como uma tatuagem é feita e você disse que adoraria ir. Bem, esse dia chegou. — ele sorri como se estivesse dizendo "surpresa!". Não sei ao certo se me sinto aliviada ou preocupada com o fato de Benjamin estar ignorando o que aconteceu entre nós dois. Ou talvez eu tenha imaginado aquilo também... Não! Não! Não! Não! Oh Deus, até o final desse dia eu vou me internar em um hospício.

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