Capítulo 23

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Angel

As segundas feiras ficam pior a cada semana que se passa. Não era isso o que eu estava esperando da faculdade, mas tudo bem, eu tenho esperanças de que as coisas vão melhorar. Elas precisam melhorar porque eu definitivamente não vou voltar a morar com os meus pais. E depois de um final de semana chorando a cada uma hora e fazendo indagações o tempo todo — Por que ele me odeia? Por que eu gosto dele? Por que ele é tão bonito? — vou começar uma nova semana e tentar esquecer tudo. A minha vida inteira eu nunca tive o que eu quis. Eu queria viajar com a escola, mas a minha mãe me dizia que eu precisava ir no campeonato de soletrar. Eu queria mais livros de romance, mas a minha mãe me dava mais livros de física e química. Eu queria morar em uma cidade grande, mas o meu pai me disse não. Sem mais explicações, era apenas não. Não, não, não. Então por que de todas esses não's, o de Benjamin é o que me dói mais? Bem, técnicamente ele não me disse não, mas acho que os seus gritos e ofensas já fizeram isso por ele.
Caminho pelo campus devagar até chegar na minha sala. Estou adiantada, então espero pacientemente o professor chegar. Dessa vez, não vou permitir que nenhum
pensamento envolvendo Benjamin me atrapalhe. Então eu me concentro na aula e faço isso pelo resto do período. Ele não demora tanto para acabar quanto eu estava esperando. Passo pelos prédios e quando percebo, já estou procurando por cabelos ruivos e sardas. Qual o meu problema? Eu devo ter algum tipo de distúrbio mental, porque não é possível alguém gostar tanto de ser feita de capacho sem ter algum problema mental. Aposto que se eu fosse sequestrada provavelmente me apaixonaria pelo sequestrador. Me forço a olhar para baixo enquanto ando e não me importo se vou trombar nas pessoas. Eu me recuso a ficar procurando por Benjamin. Alguns minutos e três "olha pra frente enquanto anda!" depois, recebo uma mensagem de Olivia. Ela está pedindo para eu ir até a cafeteria e diz que está sozinha. É o único motivo que me faz ir.
Não demora muito até eu ver ela sentada em uma das mesas com os seus cabelos curtos presos em um coque fofo.

— Por que está tão calor hoje? — ela pergunta assim que me vê. Dou de ombros. Quando se vem de uma cidade chuvosa, você aprende a gostar do calor.

— Cadê o Eric?
Não pergunto sobre os outros, porque sei que assim que Olivia citar o nome de Benjamin, eu não vou conseguir evitar querer falar mais sobre ele.

— Ele saiu com o Lucas para resolver algumas coisas.
Concordo com a cabeça sem saber muito bem o que falar e desejando perguntar sobre Benjamin. Eu não vou.

— E então, como foi o resto do seu final de semana? Já que você não volta para o dormitório desde sexta. — falo com um olhar de reprovação, mas não acho que ela se importe.

— Foi mais ou menos... Os pais do Eric voltaram para casa na sexta feira e eu só fui descobrir isso no sábado. Então sabe como é, não deu pra molhar o biscoito.
Ambas damos risada da escolha de palavras de Olivia.

— Eles ainda estão lá?

— Não, foram embora no domingo de manhã. E agora só Deus sabe quando  voltam.

Desde que Olivia me disse que a mãe de Eric trabalha como aeromoça e o seu pai trabalha como piloto, fico imaginando como deve ser viver com os pais tão ausentes. No meu caso, acho que seria um grande alívio.
Olivia pede um pedaço de bolo e nós duas o dividimos em silêncio, apenas apreciando o sabor do chocolate. Não demora muito até o silêncio ser interrompido por uma voz logo atrás de mim:

— Ei, loira!
É Ashley. Que ótimo...
— República, sábado às oito horas, meu aniversário. Você está convidada. — É a única coisa que ela fala antes de ir embora tão rápido quanto chegou.
Fico tentando entender o que aconteceu e se ela realmente disse o que penso ter escutado.

— Você vai, não é? — Olivia quebra a minha linha de raciocínio.

— Definitivamente não.
Prometi a mim mesma que não colocaria mais os pés naquela república e vai ser necessário mais do que o aniversário de Ashley para que eu quebre essa promessa.

— O quê? Por quê? — Olivia se irrita. E lá vamos nós...

— Porque eu não gosto de festas e nem sei o que dar de presente para Ashley. Então não vou.

— Esses são os seus argumentos? — Ela levanta a sobrancelha. Petulante como sempre. — Angel você se sential mal porque a Ashley não era legal com você. Agora que ela é, você não está colaborando. A garota te chamou para a festa dela. Vai te matar ir?

Sim. É o que eu tenho vontade de dizer. Mais uma festa, mais um acontecimento desastroso, mais uma briga com Benjamin e eu não vou resistir. Mas como falar isso para Olivia sem paracer uma rainha do drama?

— Isso ainda não resolve o problema do presente. — Essa é a minha defesa, já que eu não tenho nenhuma boa o suficiente.

— Compra alguma coisa preta, sei lá.

Respiro fundo, penso um pouco e decido que não vou conseguir fazer Olivia mudar de ideia, como sempre...
— Tudo bem, eu vou. — respondo e mais uma vez a vejo triunfar. Isso está começando a ficar irritante.

Terminamos o bolo e pela primeira vez em muito tempo, Olivia me acompanha até o dormitório. Tenho um dia inteiro para planejar. Amanhã depois da aula eu preciso comprar o presente de Ashley e possivelmente uma roupa para a festa. Vou ter que fazer tudo isso sozinha, porque não posso contar com Olivia para nada, pelo menos não enquanto Eric for a sua prioridade. Decido também — depois de me encarar no espelho por meia hora — que vou mudar a cor das minhas mechas. Peço para Olivia marcar um horário para mim amanhã e ela me avisa que preciso estar no salão às seis.
Quando o relógio marca cinco horas, Olivia vai tomar um banho e eu tento tirar um cochilo, mas me desperto quando ela entra no quarto de novo.

— Então... Eu estou indo no ensaio dos meninos. Quer me acompanhar? — ela pergunta enquanto se troca.

Ensaio? Com Benjamin? Não, obrigado.

— Não, obrigado. — respondo e antes que ela possa começar a insistir falo — Eu preciso estudar um pouco, porque me distrai nos últimos dias.
Não é totalmente mentira. Eu realmente me distrai nos últimos dias, pensando — como sempre — em Benjamin, mas não vou estudar. Eu literalmente poderia perder uma semana inteira de aula e conseguir acompanhar o conteúdo depois facilmente. Esse é o lado bom de ter sido obrigada a ler livros avançados por horas e horas na infância.

— Tudo bem, então. Mas se você mudar de ideia, é só me ligar. O ensaio demora umas duas horas ou três dependendo do dia. — ela avisa antes de sair.

Deito na cama e coloco os meus fones. Três canções depois e muitas memórias de Benjamin, decido que foi uma péssima ideia escutar música. Taylor Swift me chamou de otária inúmeras vezes e eu nem escutei mais do que apenas um álbum dela. Leio um livro, mas não ajuda muito na parte de tentar esquecer... Até que enfim, adormeço.

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