Capítulo 54

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Angel

É uma tortura abrir os olhos. Minha cabeça está latejando e tudo parece estar girando sem parar. O que foi que aconteceu?

Sento na beirada da cama, tentando entender se o mundo está muito rápido, ou se sou eu quem está muito lenta. Encaro o chão por alguns segundos até sentir que estou preparada para manter a cabeça erguida, mas isso não acontece. Minha boca está seca, meu corpo grita por água e meu estômago está me dando sinais nada sutis de que não está bem. O que foi que eu fiz?


— Bom dia. — Uma voz que vem da cama de Olivia fala, porém, tenho certeza absoluta de que não é ela. Se eu estivesse em qualquer condições de me mexer, não tenho dúvidas de que já estaria correndo aos gritos. — Você conseguiu, hummm, dormir bem? — A voz continua, mas dessa vez não parece tão estranha. Benjamin?

Olho para a frente e meus olhos, apesar de embaçados, me confirmam que é ele. Sinto a cratera no meu peito se abrir mais um pouco, em agonia. A noite passada é apenas um borrão para mim, mas aquela conversa? Ah, aquela conversa está se repetindo na minha cabeça incansavelmente. E mesmo com todas essas dores no meu corpo, o que mais dói ainda é olhar para ele.


— O que você tá fazendo aqui? — Essas palavras saem quase como sussurros. Em partes porque, de repente, estou com vontade de chorar. Será esse o "efeito Benjamin"?


— Você bebeu um pouco além da conta ontem à noite e eu precisei te trazer pra casa. — Talvez os meus ouvidos estejam sofrendo com as consequências da bebida, mas posso jurar que a voz de Benjamin está embargada. Ele estava chorando? Isso explicaria porque não o reconheci logo no "Bom dia". — Você se lembra de alguma coisa?


Alguns cenários começam a aparecer na minha cabeça. Olivia, Eric e Lucas gritando "Vira!" em coro, enquanto eu seguro uma garrafa de uísque na mão. Ashley virando shots de vodca junto comigo. Eu tentando rebolar no meio de uma multidão junto com Olivia e Ashley e falhando miseravelmente. Uma ânsia de vômito e uma árvore. Nada mais. Ugh! São apenas lapsos de memória e já estou sentindo a minha pele arder de vergonha. Vou fazer o possível para que o resto dessas lembranças fiquem presas somente com a minha versão bêbada e inconsequente.


— Que horas são? — pergunto.


— Duas da tarde. Eu achei melhor deixar você descansar. — Benjamin pela primeira vez desde que o conheço, não está exalando o seu ar de confiança e arrogância. Na verdade, ele parece nervoso e inquieto. E apesar de eu ter um milhão de perguntas, sei que provavelmente não vou gostar das respostas. Acho que é isso, entre o êxtase do voo e a ânsia da queda, nós acabamos. Não devo fazer perguntas e ele não me deve satisfações.


— Preciso tomar banho. — Pego a primeira roupa que vejo e uma toalha. Um minuto a mais nesse quarto e não tenho dúvidas de que vou começar a chorar.

Antes que eu consiga chegar até a porta, Benjamin entra na minha frente.

Ele não fala nada, mas também não faz menção de me deixar passar. A boca que antes me excitava agora me faz ter medo, porque sei que qualquer palavra que sair dali tem o poder de me destruir. De novo e de novo.

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