Capítulo 26

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Benjamin

Eae, como você tá? A gente pode conversar?, falo em frente ao espelho do meu quarto, tentando soar descontraído. Não posso falar com Angel desse jeito. Ela vai pensar que eu não sinto culpa pelo que aconteceu. Olá, como você está? Será que poderíamos conversar, tento mais uma vez. A formalidade não combina comigo e com certeza não combina com um pedido de desculpas decente. Olho para o relógio e vejo que já se passaram vinte minutos desde que estou treinando o que dizer a Angel. As minhas últimas treze tentativas não tiveram sucesso, mas não posso faltar a aula de literatura. Foi um sufoco até eu finalmente conseguir convencer a senhora Lynn a me colocar nessa aula. Quando fui até a secretaria do campus ontem, estava esperando encontrar Sarah. Seria muito mais fácil convencer ela devido ao nosso passado juntos, mas ao invés disso dei de cara com a velha carrancuda da senhora Lynn.
Não escuto nada das minhas primeiras aulas e pela primeira vez não faço isso de propósito. Vou até o banheiro do campus só para fazer mais algumas tentativas. Falho miseravelmente. Novamente estou a beira da loucura, mas ainda assim tenho que ir para a aula de literatura. No caminho tento acalmar os meus pensamentos e o maldito vento no meu estômago. É isso o que as pessoas chamam de "borboletas na barriga"? Porque se for, sinceramente é uma sensação extremamente incomoda. Olho para o meu relógio e percebo que estou atrasado, então apresso os meus passos. Quando foi que eu me tornei essa pessoa que fica ansioso para ver uma simples aula? Ou melhor, uma simples garota? Ah, quem eu estou querendo enganar... Angel não tem nada de simples, ela é complexa da cabeça aos pés e... Rufus! Avisto o meu antigo professor e percebo que cheguei na sala. E lá está Angel. Bem na fileira do meio, ocupando o sexto assento. Ela está tão linda quanto estava na primeira vez em que a vi. E posso jurar que quanto mais a olho, mais perfeita ela se torna. Por Deus, como isso é possível?

— Senhor Davis, você pretende ficar parado nessa porta até que a aula acabe? — Rufus me repreende, fazendo com que eu desvie os olhos de Angel.

— Desculpe. — falo e me apresso em entrar na sala. Percebo que todos os olhares estão em mim, mas o único par de olhos que me importam parecem apavorados por minha causa. É como sentir a lâmina de uma faca me cortar. Angel claramente odiou a minha presença nessa sala. E o meu plano de sentar ao seu lado vai por água abaixo. Não vou me sentar em uma fileira diferente porque não quero perdê-la de vista, mas se a minha presença a deixa desconfortável não vou chegar perto. Tanto treinamento e no final de tudo eu nem sequer vou falar com ela. Pelo menos eu posso observá-la durante essa aula inteira, tornando-a a melhor do dia.

— Hoje nós vamos voltar a discutir sobre Orgulho e Preconceito. A obra da escritora britânica Jane Austen. — Rufus fala. Apesar de ele me odiar, sempre achei ele um dos melhores professores do campus. Imaginar a reação dele quando descobriu que eu voltaria a frequentar a sua aula quase me faz gargalhar no meio de sua explicação.  — Bom, já estamos falando sobre essa obra há algum tempo agora e eu gostaria de uma análise dela. Quem vai ser o primeiro? — Ele espera em silêncio por alguns segundos. Todos estão cabisbaixos, mas Angel parece ser a pessoa mais imóvel desse lugar. Não é possível que a minha presença a incomode tanto assim. Será que está tudo perdido? Estou tentando em vão? Penso em sair da sala nesse exato momento e cancelar a minha inscrição para essa aula. Penso também em pegar o apagador da lousa e arremessá-lo contra alguém. Mas não me sobra tempo para fazer nada disso, porque quando menos percebo não só Rufus, mas toda a sala está me encarando.
— Senhor Davis, você me escutou? — ele pergunta irritado.

— Não, pode repetir?

Ele respira fundo — com certeza imaginado como seria me estrangular — e diz:
— Eu pedi para você fazer a análise da obra. Você já fez essa aula antes e seja lá qual for o motivo que te trouxe aqui de novo, imagino que não seja porque esqueceu tudo o que eu lhe ensinei. Então você poderia por favor, fazer a análise da obra?
Sua fala é educada, mas está estampado por todo o seu rosto vermelho o quanto ele me odeia. Sorrio sabendo que isso vai irritá-lo e respondo:
— Claro. — Olho para o lado e vejo Angel me olhando atentamente. Isso com certeza vai dificultar a minha respiração.
— Elizabeth Bennet é uma jovem orgulhosa que tem uma personalidade forte para a sua época. Já o Sr. Darcy é um homem que apesar de muito educado, se mostra preconceituoso no começo do romance. Ironicamente ele se apaixona perdidamente por Elizabeth e a relação dos dois é pautada pelo preconceito, a paixão, a raiva e a atração. A dualidade entre o amor e o dinheiro move a narrativa, que retrata detalhadamente a sociedade inglesa do século XIX. Assim como também podemos ver a sociedade inglesa da época ser retratada através do comportamento dos personagens.
— Minha mãos estão suadas quando eu termino de falar. Essa com certeza foi uma das piores análises que já fiz, mas ainda assim estou surpreso por ter conseguido falar enquanto aqueles olhos cor de mel estavam cravados em mim. Toda a sala já parou de me olhar... Angel não, e tenho vontade de implorar para que ela se vire para a frente. Eu não tenho ideia do que está se passando naquela cabeça.

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